sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Na Toca do Lobo


O filme A Perseguição (The Grey, 2011), dirigido por Joe Carnahan, com Liam Neeson, é um verdadeiro filme de terror. Antes de ver, pensei que ia ser só mais um  filme de ação. É terrivelmente tenso, como um pesadelo. Tem um acidente de avião pior, muito pior do que aquele mostrado em Náufrago, de Robert Zemeckis, com Tom Hanks. Um filme impiedoso com seus personagens, como a região onde foi filmado (em regiões do Canadá que atingem 40 graus negativos). Mostra a natureza de uma forma letal e indiferente: arremessando sobre homens alquebrados e amedrontados tempestades de neve, frio intenso, lobos com presas e mandíbulas afiadas, rios de correntes traiçoeiras e algumas terríveis ironias do destino. A tensão vem do confronto do homem - olho no olho - com a sua morte. Tem um grande pathos humano, dolorosamente humano.

Versão

Música linda do The Cure, numa versão maravilhosa de Elizabeth Harper & The Matinee. Este cd Just Like Heaven, com vários indies regravando as músicas de Robert Smith & cia talvez seja o melhor disco-tributo que eu já ouvi:

Mordaça

Decidi não escrever mais crítica de autores maranhenses contemporâneos, como disse que faria aqui de vez em quando. As pessoas levam tudo para o lado pessoal, ficam magoadas, acham que não estou sendo objetivo e sim malicioso, não aceitam, infantilmente, uma opinião que não seja totalmente favorável. Como não tenho a mínima intenção de bancar o farol literário desta terra, guardarei minhas opiniões só para mim.

Resoluções para o ano


Fim de ano chegando e planejo seriamente duas coisas para 2013: concluir o meu romance A Cidade Subterrânea que retomo a partir de janeiro e publicar o meu livro de poemas Nós Somos As Palavras. Ou publicar ao menos uma parte deste último - os poemas da série intitulada Esculturas - que seriam ilustrados por trabalhos de minha querida e talentosa amiga, a fotógrafa Mônida Ramos.

Michael, eles ligam para nós!



Desde o dia em que postei uma foto em que três capas de lps se superpõem, formando uma imagem andrógina do cantor Michael Jackson, que parece estar usando calcinha, NUNCA mais pude postar nenhuma foto no Facebook. Hoje nem abrir meu perfil pude, durante a tarde. Fui bloqueado no famoso site de relacionamento. Terei sido censurado? Creio. O curioso é que a imagem usada por mim e que custou meu isolamento é uma obra de arte contemporânea. Em que sequer há nudez. São três capas de disco que rolam por aí. Aprendi uma lição moral: Jackson travesti não pode, né seu Face? Molestador de criancinhas também não podia, mas quanto a isso ele deu um jeitinho nos tribunais antes de virar purpurina...

Hell

Gincana de adolescentes e campeonato esportivo no ginásio do Colégio Master, bem ao lado do meu condomínio. Uma algazarra dos diabos, com direito a vuvuzela, tambores e muito grito. Nenhum isolamento acústico, nenhum respeito pelos vizinhos. A ganância dessas escolas só não é maior que o desrespeito ao bem estar dos outros. Dor de cabeça, mau humor, impossibilidade de descansar um pouco. Não consigo sequer me concentrar para escrever. Dia inteiro desperdiçado.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Sofás

Não me lembro quem escreveu que "Seríamos muito felizes se nos contentássemos com o sofá de nossas salas"... Mas é fato: queremos sempre e muito mais. A insaciabilidade: é nossa marca como sociedade. Uma voracidade que nunca se satisfaz. O capitalismo é triste, pois basicamente depende de crianças de olho gordo: nós. Eu, aliás, já estou planejando trocar a cor do sofá branco da sala.

sábado, 11 de agosto de 2012

Recompensas

Prometer o paraíso a um bom cristão é como oferecer uma sardinha para um golfinho obediente: uma tática eficiente de persuasão. E olha que o golfinho é considerado um dos animais mais inteligentes do planeta...

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Feras selvagens

A civilização, como a conhecemos, vem da contenção dos instintos. A psicanálise insiste muito convincentemente neste ponto, mas nem precisávamos ler Freud para percebermos que a satisfação plena, feroz e brutal dos apetites tão somente acentua a nossa animalidade.

domingo, 8 de julho de 2012

Falta de opções

Posso estar confuso, mas a impressão é a de que todos os meus compatriotas estão se convertendo em: a) evangélicos; b) fãs de música sertaneja; c) analfabetos; d) eleitores resignados. Não sei de onde me vem a certeza política de que essas quatro opções caminham juntas, de mãos dadas. Mas para qual abismo?

domingo, 1 de julho de 2012

gênios adolescentes

Os dois últimos adolescentes que tinham alguma coisa para dizer foram Rimbaud e Radiguet. Os atuais, com todos os celulares do planeta nas mãos, não articulam coisa com coisa.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Horrores

As pessoas que reclamam da ênfase no horror nojento na segunda metade de Prometheus, de Ridley Scott, esquecem do mito grego, muito mais horripilante, em que o bravo e heroico Prometeu, que ousara subir ao Olimpo para roubar o fogo divino, acabava cruelmente aprisionado por Zeus a um rochedo, tendo o fígado bicado por um abutre durante toda a eternidade. Os antigos mitos são narrativas poderosas que descem ao fundo abismo de nossos medos e anseios ancestrais. O cinema, criador de mitologias modernas, só de vez em quando sai das superfícies ou pega emprestada alguma chama.

Preto e Branco

Tem muito crítico no Brasil que mal disfarça a inveja de quem dirige filmes. Opinando sobre um filme novo do ótimo Cláudio Assis, um da Folha reclama até da opção por preto e branco. Segundo o rapaz, o filme devia ser colorido. Quer dizer que o autor-diretor nem pode optar pela fotografia que lhe parecer mais adequada ou expressiva? Como amante de filmes preto e branco, considero esse tipo de "crítica" de uma ruindade tacanha e reveladora de um infantilismo assustador. Quem garante ao crítico que foi a premiação em Cannes de "A Fita Branca" que influenciou o cineasta brasileiro e não os milhares de clássicos em Pb da sétima arte?

terça-feira, 19 de junho de 2012

Frase

"Nunca frequentaria um clube que me aceitasse como sócio". (Woody Allen)

Prosador

Geraldo Iensen em Sêpsis, uma novela, ou nos seus contos de "O Legado de Torres", escreve sobre a província com o olhar de um estrangeiro fascinado com os índios que nós, ludovicenses, de fato, somos, descrevendo nossos costumes primitivos aqui na vidinha da taba. Também tem uma ironia sádica contra seus supostos pares (ou ímpares?) literários, especialmente os que padecem de muito bovarismo e mediocridade. Sua linguagem, no entanto, não está interessada em experimentalismos, não busca explorar os recursos modernistas, é estranhamente convencional.

Sonhos

Freud acreditava que os sonhos eram manifestações inconscientes dos nossos desejos e que levavam em conta os acontecimentos mais recentes. Mas Jean Cocteau naquele filme, Orfeu, sugere que os sonhos são uma espécie de território intermediário entre o mundo dos vivos e o universo dos mortos. Há uma passagem notória e de arrepiar os cabelos em Freud, em que ele conta o sonho de um pai em que o filho morto (e que estava sendo velado numa sala) aparece-lhe coberto de chamas reclamando: "Pai, não vê que estou ardendo?". O pai acorda, vai até onde estava o corpo do filho e vê que uma das velas tombara sobre ele, chamuscando o cadáver. É impressionante. Histórias assim e sonhos realistas com pessoas já falecidas me levam a acreditar que Cocteau tinha uma certa razão.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Fazendo o que a imprensa oficial não faz

Ninguém toca nos livros dos escritores maranhenses contemporâneos, ninguém comenta, ninguém critica, ninguém opina. Depois espalham por aí o mito de que há uma cultura maranhense maravilhosa, etc. Mas, como?! Quando? Onde? Sem repercussão, sem discutir, sem crítica? Que cultura é essa? Já que ninguém se atreve, darei minha cara a tapa a partir de agora, escrevendo sobre os livros que me chegarem, ainda que cheguem com atraso. É o mínimo que posso fazer. Aguardem as próximas postagens.

Questões

Não dou a mínima pra futebol, mas algumas perguntas eu sinto que tenho que fazer porque as coisas estão chegando a uma dimensão ridícula: Quem é Ronaldinho Gaúcho, o que ele fez de errado afinal, bateu papo ou o quê no quarto com uma mulher, quem vai saber, e que importa isso, e qual é o crime cometido por um clube que sonda o jogador de outro time (todos os times sempre não fazem isso)? O que é o futebol (ah, aquele esporte inventado pelos ingleses que o Lula sempre comparava ao seu governo)? Por que tanta gente fala nesse tal de Neymar, ele é o nosso Cristiano Ronaldo por acaso? E, acima de tudo, por que torrar vinte e cinco bilhões em obras (se ficar só nisso) para uma Copa do Mundo nesse nosso país sem hospitais e escolas públicas decentes? Que primeiro mundo é esse que o Brasil pretende alcançar ou impressionar quando sabemos que o chamado primeiro mundo está todo mergulhado em recessão econômica, desemprego e crise generalizada, é isso que o Brasil quer para si neste momento? Quais as nossas prioridades como nação? A política do circo para o povo (onde cabe a nós o papel dos palhaços)? Justo agora com a inflação galopando no horizonte e a seca do Nordeste, que promete?

Bolachas

2012, ao que tudo indica, vai ser um ano repleto de bons discos, tanto de veteranos quanto de bandas emergentes. Tenho minhas dúvidas em relação às bandas emergentes, afinal não me entusiasmo muito com o que ando ouvindo por aí, mas os discos novinhos em folha de Patti Smith, Garbage, Keane, Rufus Wainwrigh, Gossip, Richard Hawley, Arctic Monkeys, Scissor Sisters, Hot Chip, entre outros, estão muito bons pra começo de conversa.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

A grande beleza de uma rainha do mal



"Branca de Neve e o Caçador" (Snow White & The Huntsman, 2012) é um entretenimento divertido na maior parte do tempo, que se vale de um visual deslumbrante e de algumas insinuações perversas para recontar uma história manjadérrima: um daqueles contos de fadas pilhados do imaginário popular europeu pelos fabulosos Irmãos Grimm e que foi magnificamente adaptado por Walt Disney, num desenho visto e admirado por todo mundo. Edmund Wilson, o famoso crítico literário, era obcecado por Disney, e o russo Serguei Eisenstein, diretor do clássico "O Encouraçado Potemkin" (1925) considerava "Branca de Neve e os Sete Anões" (1937) o melhor filme de todos os tempos, e melhor elogio que o apreço desses dois senhores eu desconheço.

Muita gente com quem converso me diz que não gosta de filmes fantasiosos, por considerá-los infantis. Puxa vida, caramba. Apontem-me um único filme produzido nos últimos trinta anos em Hollywood que não seja absurdamente fantasioso e infantil. Não estou falando do cinema independente americano, que ainda segura a peteca de um certo realismo-naturalismo preferido por essas pessoas que fazem ressalvas a filmes como a trilogia "O Senhor dos Anéis" (Lord of The Rings, 2001-2003). Spielberg e George Lucas manjaram, cinéfilos que são, o gosto das massas pela diversão escapista. Nada inventaram. Apenas deram ao público contos de fadas adequados à nossa era tecnológica. Ficaram multimilionários assim.

"Branca de Neve e o Caçador" é, claro, puro entretenimento escapista, mas pelo menos diverte com competência, coisa que vários filmes recentes (alguns inclusive indicados ao último Oscar) tentaram fazer, sem sucesso. Não serve para crianças pequenas (estas vão se apavorar). E é um filme de mocinha contra vilã. E que vilã a magnífica Charlize Theron interpreta, calcada, segundo ela, no Jack Nicholson louquinho de pedra no hotel mal-assombrado de "O Iluminado" (The Shining, 1981). Sim, o grande embate do filme é entre a princesa Kirsten Stewart (a Branca de Neve) e a rainha madrasta Charlize Theron (Ravenna) Mas os rapazes podem ver este duelo sem sustos, a muitas léguas de ser um mero "filme de meninas", não é aquela comédia fraquinha que a Julia Roberts fez com o mesmo tema, "Espelho, Espelho Meu" (Mirror Mirror, 2012). Há muitas cenas de combate (poderia ter menos, reclama Roger Ebert, e com razão), tais cenas caberiam em qualquer épico de Mel Gibson pois são uma concessão aos garotos, obrigados a ir aos cinemas a convite das namoradas e que acabam mesmerizados pelo ritmo frenético, sinistro e esplendoroso da primeira metade do filme.

Há várias coisas a destacar. Em primeiro lugar, o tratamento sombrio, mais próximo do conto original. Se o velho filme da Disney acentuava um lado fofinho e encantador, e contrastava-o com a impressionante transformação da madrasta em bruxa decrépita, esta nova versão aposta mais no clima de pesadelo daquela cena inesquecível, criando outras também poderosas, e acerta na mosca. Os contos de fada originais, quem leu na infância sabe, mostram um universo muito mais sinistro e cruel que o de vários filmes de horror. Uma sequência marcante: a fuga da Branca de Neve através da Floresta Negra, as árvores todas se movendo e lançando essências alucinógenas no ar: e a princesa acaba viajando numa "bad trip". Põe bad nisso.

Mas nada me parece mais impactante que a cena de cama entre Charlize Theron e o rei, seu esposo. Quando ela, em pleno leito nupcial, inicia um monólogo na hora do vamos ver, ressentida como uma feminista que discursa contra o falocentrismo patriarcal, momentos antes de sacar um punhal, o que me fez pensar na Sharon Stone de "Instinto Selvagem". Os homens não esperam um discurso desses, típico de jaburu, num pitéu como Theron. A vilã dela, além de assassina vingativa é uma feiticeira poderosa, linda de morrer, de uma gelidez impressionante. Há quem confunda isso com frigidez. Mas a Rainha nutre uma relação incestuosa com o irmão. O incesto entre os dois é apenas uma sugestão (mais ou menos) sutil. Há um diálogo em que ela pergunta para ele se já  não lhe dera tudo, absolutamente tudo que podia dar, e o mano concorda. O verbo "dar" aqui não se refere apenas a poder, luxo e riqueza, meus caros. É o lado mais perverso do filme, que não segue os passos "caretões" da Disney (os personagens tentam fazer sexo, embora ninguém consiga).

A rainha perde a paciência, mas não a majestade, em algumas cenas. Grita com seus lacaios, com o irmão que tenta "lanchar" a princesinha Kirsten, mas esta também reage com um prego pontudo (e fálico, o ressentimento contra os homens deve andar muito em voga em Hollywood). A cara que Charlize Theron faz diante da "traição" do irmão vale o filme. Quem nunca viu uma mulher enciumada desse jeito nunca viu uma mulher, ponto.

Muitos críticos sugerem que o personagem de Chris Hemsworth (o Thor de "Os Vingadores") é sub-aproveitado. O que queriam do cara? Ele é um viúvo bêbado-bosta, metido em mil brigas, recrutado pelo irmão da rainha para caçar a princesa fugitiva, perdida na Floresta Negra, lugar tão nefasto que até a Rainha Madrasta teme. Ele é enganado pela Rainha, que promete ressuscitar sua amada. Mas quando ele finalmente captura a Branca de Neve, hesita, vira a folha e acaba combatendo seus aliados. Decide ajudar a garota a fugir. Aqui o filme quase descamba para uma comédia no estilo "A Princesa e o Plebeu" (Com a qual tem algumas semelhanças, especialmente no desfecho), mas evita a tentação. É claro que o caçador se apaixona perdidamente pela princesa, mas contém o troço dentro de si. Até quem não acredita em conto de fada sabe que a princesa, sangue azul, casará é com o príncipe William, seu amigo de infância. Cria-se um triângulo amoroso que permanece inexplorado, não entra em combustão nem em crise de ciuminho em nenhum momento, acertadamente a meu ver, pois há uma guerra horrenda contra uma feiticeira perigosa em curso, e coisas muito mais urgentes para se preocupar, como enfrentar a morte o tempo todo em combates medievais.

 Mas o que atrapalha totalmente o ritmo da história (até então impecável) é a aparição dos oito anões (um deles, claro, morrerá, e é um barato involuntário do filme tentarmos adivinhar qual), estes anões nem anões são, cortesia dos efeitos especiais, que contribuem para Bob Hoskins e outros ganzelões deixarem desempregados vários toquinhos de gente (Quanta maldade!). Os anões deveriam proporcionar certo alívio cômico na plateia, mas alguma coisa não funciona aqui. Então na sequência seguinte vem um dos momentos mais belos do filme, um passeio pelo coração do Reino das Fadas, com cogumelos olhudos e outras criaturas mágicas deslumbrantes. Há uma cena que guarda uma semelhança assombrosa com aquela da princesa prestes a tocar o unicórnio em "A Lenda" (Legend, 1985), de Ridley Scott.

Cena problemática, a meu ver, além da aparição dos anões chatonildos, é o flashback rápido e inadequado, que mostra o drama pessoal da Rainha, um trauma infantil envolvendo até abusos, que acaba virando justificativa para o comportamento da vilã. Não precisamos saber o que levou uma criatura tão bela a ser tão monstruosa assim. É fácil imaginar a atriz querendo saber a "motivação da personagem" para encarnar o papel com mais naturalismo, mas claro, isso tudo é bobagem. Em conto de fadas a princesa tem que ser pura e boa, já a vilã tem que ser vilã, praticando todas as maldades a que tem direito. Modernizar demais os contos infantis, limando suas asperezas, acaba deixando as crianças confusas quanto à sua moral, como nos advertia Bruno Bettelheim em seu esplêndido livro "A Psicanálise dos Contos de Fadas", observação que também serve para os adultos que frequentam cinemas. É fácil entender a crueldade sem atenuantes da rainha no velho desenho de Disney, o prazer de fazer o mal, a vontade ilimitada de destruir sua rival mais jovem e mais bela, ainda que sacrifique tudo, até a vida no processo. Um exagero? Não creio. Já vi até mulheres feitas pondo toda a vaidade de lado só para puxarem os cabelos de suas desafetas.

Para as mocinhas da plateia talvez as cenas mais assustadoras do filme sejam as que mostram as atrizes envelhecendo inexoravelmente. Há várias discussões interessantes que se podem levantar sobre a questão da perda da beleza, o medo do implacável envelhecimento feminino. Perder a beleza significa perder papéis em Hollywood, todas as atrizes veteranas sabem, e mesmo a lindíssima Charlize Theron. Mas o filme funciona ainda que não se discuta nada, mesmo para aqueles que não enxergam as camadas menos óbvias de seu subtexto. É um belo filme, graças ao talento visual criativo de seu diretor, Rupert Sanders, outro que salta do mundo da publicidade para o universo do cinema. Pois seja bem vindo, seu moço.

Plim Plim

O poder de hipnose que as telenovelas exercem nas mulheres brasileiras, bem como o futebol, por sua vez, entre os representantes viris da nação, é avassalador. Em grande parte por sermos um país de analfabetos. Não temos também um cinema (nem, porca miséria, um teatro) que rivalize com a atenção cavalar dedicada a telinha. E TV sai de graça, não é preciso entrar em fila, pagar flanelinha ou estacionamento, fica-se em casa assistindo-a, mansamente, como um gato castrado. As telenovelas encontraram, a meu ver, a fórmula mágica para os entretenimentos baratos: dão o que o povo quer. São reescritas diariamente por autores e assistentes, em função do que o público deseja. Já o futebol serve como verdadeira válvula de escape para o troglodismo dos machos da raça. A quantidade de palavrões proferidos durante uma simples partida serve de descarrego emocional a essa nossa gente sofrida, que prefere xingar a mãe do juiz a falar mal de nossos políticos daninhos. A maioria forma toda sua pobre noção de "realidade" com base nas imagens fragmentadas, corridas, da TV, que não comportam pausa para reflexão. As pessoas ficam prostradas em êxtase na sala. Tamanha devoção dedicada à telinha me lembra o fascínio submisso do escravo atirado aos pés de seu amo e senhor.

domingo, 3 de junho de 2012

Voltamos!

Oi, lembram-se de mim? Faz tempos que não escrevo nada por aqui. Ando atarefado e estudando muito. O estado deplorável de nossa ilha não me dá muito ânimo de sair da toca. Principalmente agora, quando começa o período junino, e tudo se resume a boi e matracas nesta cidade. Há quem se divirta olhando essas coisas, e não me espanto, há quem se divirta mesmo em velórios. Tento me desinfetar do contagiante provincianismo local lendo bastante. Estou me regozijando aos bocadinhos com o "Diário da Corte", do Paulo Francis. Quanta falta faz ao Brasil um sujeito de gênio crítico como Francis! Especialmente em tempos grotescos como o nosso. Imagino o pau que ele não escreveria, achincalhando quem merece ser achincalhado na desgraceira que virou a vida sob a classe governante deste país. Francis quebrou a forma com a qual moldou a si mesmo, não deixando discípulo na imprensa oficial, ou blogueira, que o igualasse em erudição, sagacidade e graça. Ainda não apareceu ninguém com um terço do seu brilho intelectual, ou que concorra com seu talento imenso no manuseio das palavras. Também ninguém supera o seu delicioso coloquialismo nem exibe a força de suas opiniões. Polemistas, há alguns, mas nenhum digno de nota. Como ficou chato ler jornal no Brasil, que não deixa de ser uma obrigação diária indispensável, como aqueles rituais físicos que praticamos no banheiro.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Farewell

A morte do magnífico escritor mexicano Carlos Fuentes, 83, me apanhou de surpresa hoje, em meio a tantas mortes que têm me apanhado de surpresa recentemente. Fuentes era sempre uma certeza de grande literatura, reafirmada a cada livro, seja em forma de ensaios, contos ou romances. Seus ótimos A Morte de Artêmio Cruz, Geografia do Romance, Aura, Este é o Meu Credo, Inquieta Companhia e A Fronteira de Cristal resplandecem em seu lugar de honra na estante. Uma perda para o México, para a literatura mundial, para os leitores que o amavam, para todos os leitores amantes de grandes e inesquecíveis livros.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Banquete de Mendigos



Lendo e apreciando muito Ironweed, do William Kennedy, que foi adaptado para o cinema nos anos 80, pelo Hector Babenco, e que virou um filme muito bom com o Jack Nicholson e a Meryl Streep. A história mostra como vivem alguns mendigos nos EUA, mas que ninguém espere do livro um naturalismo extremado ou do autor um tom demagógico de denúncia social. Na verdade Ironweed é um livro bem surpreendente, interessado em fazer um registro aflitivo e afetivo de seus personagens, com um enredo cheio de alucinações, flashbacks e diálogos fantasmagóricos entre o personagem principal e os dois ou três mortos que ele carrega nas costas. Há momentos de extrema delicadeza, líricos mesmo, e também nota-se um profundo sentimento de nostalgia por um lugar perdido na América moderna nesse olhar que Kennedy lança demoradamente sobre o universo de párias, bêbados e avariados mentais, os verdadeiros excluídos do sonho americano. Excluídos esses, que em tempos de crise econômica à americana, como a atual, devem pulular por aí, com Obama ou sem Obama.

Inevitavelmente associei o livro ao tratamento que muitos de nós, brasileiros, damos aos membros da camada mais decaída de qualquer sociedade. Vocês talvez se lembrem daquilo que disse em julgamento um daqueles garotos que queimaram um índio em Brasília: "Pensamos que era só um mendigo".

Pois é, os indigentes, que no Brasil desenvolvido, da Dilma e do Cachoeira, não são considerados índios nem gentes, mas coisas para serem incineradas ou espancadas por garotões de classe média ou alta sem o que fazer. Mas eu me pergunto: e quem é gente, de verdade, num país em que cidadania, direitos humanos, dignidade, tudo parece artigo de luxo e fora do alcance dos pobres mortais?

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Caixas de som

Escutar sempre os mesmos velhos e empoeirados CDS é uma prática pouco recomendável se você quer manter os amigos por perto, mas que remédio se os últimos lançamentos não te empolgaram muito? A conferir com interesse os discos novos de Richard Hawley (saiu ontem) e do Rufus Wainright... De resto, curtir os velhos e bons disquinhos das jurássicas lendas musicais de outrora.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Liquidação

Até um tempo atrás, quando se queria depreciar um roqueiro, bastava dizer:´"é um vendido!"

A grande ironia é que agora que ninguém mais vende CD, a não ser, talvez, o camelô pirateiro da porta do banco, quase todos os astros do rock não passam de uns vendidos.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Chutando a TV


A televisão sempre consegue mostrar o lado mais banal das coisas mais interessantes.

A televisão é um lugar cheio de famosos dizendo ou fazendo coisas infames.

A tevê é um monstro fabricado para vender outros monstros.

Senhores telespectadores: hoje não transmitiremos boas notícias. A não ser durante os nossos comerciais.

domingo, 29 de abril de 2012

Dom Bigode


Caricatura que fiz hoje de madrugada, no Paint Brush.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

O incêndio dos aspectos



"Os Primos", de Claude Chabrol, mostra-nos o ressentimento, a inveja e a perversidade destrutiva de pessoas que passam por ingênuas e boazinhas. É uma aula de como inverter as expectativas do público.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Duas verdades incômodas que devem ser ditas

Em meio a toda a repercussão da morte do jornalista Décio Sá (aliás, Aldenísio), o que me causa mais espanto e até indignação, foi ler que o velho oligarca José Ribamar Sarney, assim como eu, vocês e todas as pessoas decentes ou indecentes deste estado, também considerou o crime uma grave ofensa "à democracia e à liberdade de expressão".

Fico pasmo com nossos poderosos donos de jornais e tvs. Porque aqui no Maranhão só existem duas possibilidades para um jornalista exercer "a democracia e a liberdade de expressão" em algum órgão da nossa imprensa oficial: ou puxando o saco dos Sarneys ou babando o ovo da oposição.

Outra coisa que me incomoda, a despeito da horripilante barbaridade e ato de covardia que foi esta morte de encomenda, é o fato de alguns já estarem santificando o falecido como uma espécie de mártir e paladino da livre imprensa. Com todo respeito à família do jornalista, mas o sujeito em questão foi uma das figuras mais duvidosas ética, profissional e pessoalmente que já conheci na vida. Só espero que agora descanse e que seja deixado em paz.

Muito assustador o fato de que os assassinatos de jornalistas só têm crescido no nosso país. E todos já sabem que o Brasil trombou de frente com a UNESCO na discussão desta questão, junto com o Irã e o Paquistão, dois péssimos exemplos de modelos "democráticos" a serem seguidos. Estes são tempos verdadeiramente sombrios para jornalistas, maranhenses e brasileiros em geral.

Esperando o Iluminismo chegar



O índice de 64% de satisfação popular com Dilma, ainda que muitos desejem o retorno de Lula, parece um paradoxo, mas reflete cristalinamente como encaramos a política por essas bandas do planeta. No Brasil há essa crença coletiva de que o governo seja o único responsável pela sorte e destino de todos, pois entre nós impera desde tempos imperiais a visão de que um cargo no poder é uma espécie de unção divina. Em política ainda não saímos do Absolutismo, esquerda ou direita coroada no poder. Como humildes súditos do Rei, não nos consideramos dignos de andar, pensar ou agir por nossas próprias pernas. Queremos que a Trindade “Estado, Deus e Presidente” cuide de tudo por nós e proteja-nos de nossas próprias e perigosas vontades.

Tardio

Sou um crítico de arte, leitor e cinéfilo muito tardio. Enquanto as pessoas todas ficam alimentando ilusões e esperanças quanto ao futuro, eu estou sempre "descobrindo" o passado. Tenho plena consciência de que cheguei muito atrasado ao banquete: agora só restam ossos e migalhas na mesa. Mas há quem se delicie com os restos, as raspas e o lixo cultural de nossa época.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Livrinho

Já tentei ler "On The Road", de Jack Kerouac, mas fracassei redondamente: é tão incrivelmente mal escrito que não é para mim. Está mais para a (má) datilografia do que para a literatura. Muita gente boa vive falando com entusiasmo da tal "Geração Beat", mas essa foi uma das poucas lorotas em que nunca caí.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

(B)Oi na Linha

Como dizia Paulo Francis, para tomar um banho de vulgaridade, basta pôr o pé na rua. As pessoas e as empresas estão cada vez mais ostensivas de sua falta de educação e no desrespeito a regras mínimas de civilidade.

Empresas como a Oi tratam seus clientes como gado, concluo, após tentar cancelar minha linha fixa. Foi um parto ser atendido. Porque primeiro fui a um posto no shopping São Luís e solicitei o cancelamento. A mocinha me disse que para cancelamento só indo na Oi do Parque Bom Menino. Como boa besta, fui à Oi do Bom Menino. Chegando lá, depois de fila, a pré-atendente me informou que para cancelamento só me dirigindo à Oi do Viva Cidadão, na Praia Grande. então peguei o terceiro ônibus do dia e fui à Oi do Viva Cidadão, que estava entupido de gente.

Para minha quase sorte, na Oi só havia duas pessoas na minha frente. esperei uns bons trinta minutos e finalmente pude ser atendido por um rapaz. Que para fazer o cancelamento passou-me um telefone, para eu falar com um atendente. (Falar com alguém da Oi ao telefone é impossível, pois eles te deixam muito tempo na espera, em vão, e não resolvem teu problema, e depois a linha cai). Só que eu não conseguia ouvir a atendente. A ligação estava péssima. Tentamos de novo, e dessa vez era o novo atendente que não conseguia me ouvir. Tentamos uma terceira vez e uma quarta, mesmo problema.

Eu já estava achando que toda aquela de história de que "não consigo ouvir o senhor" era embromação, pois cada um dos diversos atendentes com quem falei só me dizia isso depois que eu solicitava cancelamento de linha.

Sugeri que tentássemos de outro aparelho, já que a linha ali "não funcionava" (Um absurdo completo, pois se trata de uma das maiores companhias telefônicas do país e me pergunto: como é que eles não têm uma só linha decente para que os clientes possam falar com eles?)

No novo aparelho, consegui soar inteligível a uma atendente, enfim. Mas ela me abandonava sempre, pedindo para eu esperar "um instantinho", que se arrastava por décadas de silêncio do outro lado da linha, ou então, o mais comum, enquanto a atendente não falava comigo era ouvir outras vozes tagarelando e também sonoras risadas. Vai ver a piada éramos nós, os clientes. A atendente voltou, depois de me deixar esperando Godot, só para me informar, triunfal, que a minha linha estava bloqueada "por falta de pagamento". Retruquei que desconhecia esse fato. e, como nunca deixo de pagar todas as minhas contas (e guardo por décadas os recibos), perguntei: que meses são esses que eu não paguei? "Março e abril", disse ela. "Olha, minha querida, março foi o mês passado e a fatura de vocês simplesmente ainda não chegou, quando chegar eu pagarei, como sempre faço" - expliquei me contendo - "e abril é o mês corrente, como é que eu vou fazer o pagamento de abril se abril ainda nem acabou"? E completei:

- Mas o que tem a ver? Se eu estiver devendo conta porque vocês não enviaram as faturas ainda, isso quer dizer que não posso fazer o cancelamento?

- Pode sim, queira aguardar só um momentinho.

Depois de ficar quase 50 minutos esperando que a atendente me desse alguma resposta sobre a minha solicitação, perdi a paciência com todo aquele abuso. Quando uma outra cliente, uma senhora ao meu lado, reclamou que também tentava, tentava, e não conseguia cancelar sua linha (ontem mesmo telefonaram para ela, que havia solicitado cancelamento há mais de cinco dias) e ao ouvir ela dizer que iria ao Procon, eu desabafei: "E eu que sou jornalista, acho que vou escrever uma matéria a respeito disso tudo..."

Santas palavras mágicas. Alguns minutos após ter dito isso, a moça que estava no computador se prontificou a me ajudar, acessou pela Internet o número do meu protocolo de cancelamento, dispensando-me do mico de aguardar mais meia hora pela atendente.

Dizendo eles que o meu cancelamento ocorrerá até amanhã. Não sei, não. A Oi, a meu ver, só tem conversa para (B)Oi dormir.


terça-feira, 17 de abril de 2012

Sabor de Infância

Apesar de maranhense legítimo, a minha "maranhensidade" nunca foi lá grandes coisas: detesto guaraná Jesus, chamo juçara de açaí mesmo e nunca aprendi a diferença entre a Catirina do Bumba-Boi e o Beco da Catarina Mina.

Mas dia desses, na gôndola do supermercado, fiquei intrigado com um pote de geleia de cupuaçu -  comprei, provei e devo admitir que me senti do mesmo jeito que aquele impiedoso crítico gastronômico de Ratatouille ao saborear um prato preparado por ratazanas: achei uma delícia tão grande que me fez lembrar da própria infância.

Não quer dizer que com esta doce epifania eu tenha deixado de ser enjoado e sucumbido de vez às maravilhas da ilha. Ainda vai levar um tempão para eu aprender a tolerar a batida das matracas e a dançar o Cacuriá.

Retrato em Preto e Branco

Quando eu era moço, mas nem tanto, a juventude deste país era quase toda "collorida". Pois quando essa mesma juventude se deu conta de que a realidade política não era exatamente um arco-íris decidiu pintar a cara e ir às ruas. Caras pintadas de preto, como protesto contra a "colloração" anterior.

Hoje tenho impressão de que a maioria dos jovens não têm mais cores políticas. As cores da Bandeira sempre me pareceram um tanto desbotadas. Mas agora as coisas andam cinzentas...

sábado, 14 de abril de 2012

Frustração

Como entomólogo amador especializado em colecionar lepidópteros (foto), a minha grande frustração científica foi ter perdido o mágico momento em que todas as medonhas lagartas forrozeiras de São Luís se metamorfosearam em pavorosas borboletas sertanejas.

É ou não é, eis o raio-x da questão

O escritor brasileiro é aquele sujeito que passa horas pelejando com as palavras, e que só se levanta com a sensação de dever cumprido depois que compara os seus próprios esforços ao que de melhor produziram os grandes imortais da literatura universal. Satisfeito por não se julgar inferior, ele finalmente nota os roncos nada modestos da sua barriga autoral, e deixa a casa para ir entubar um hot dogão na esquina. Ao passar pelos vizinhos, tira o chapéu para cumprimentá-los. Quando o escritor brasileiro some, virando a esquina, todos comentam exatamente a mesma coisa que a crítica literária vem declarando há anos a seu respeito: “esse cara só pode ser um débil mental!”

Tempo, tempo, tempo: mano velho


O tempo passa correndo e nada comprova mais a desabalada pressa da vida moderna do que percebermos nitidamente as nossas mudanças de comportamento através de todos esses anos.
Quando se passa, por exemplo, a iniciar frases com expressões como “Antigamente” ou “No meu tempo”, é fatal. Já estamos velhíssimos. Antigamente, no meu tempo, eu jamais começava uma frase assim...
Envelhecer é um processo natural, mas também me parece natural tomar um leve susto diante das principiantes rugas e dos fios brancos precoces na cabeleira (quando ainda se possui uma).
Há quem tente remediar o estrago, recorrendo a plásticas ou a tinturas, mas, convenhamos, tais medidas devem ser confiadas apenas às mãos de profissionais competentes, caso contrário algumas dessas operações ou tratamentos acabarão obtendo resultados pouco satisfatórios, para não dizer desastrosos.
É muito lisonjeiro dizer que uma pessoa parece mais jovem do que de fato é, pois a maioria aparenta mais idade do que possui. Vejam aquele filme que mostra a vida da cantora Edith Piaf. Eu sei que ela sofreu horrores, mas quem nessa vida não sofre, padece. O tempo dá suas bordoadas em todos.
E aquela pergunta da madrasta da Branca de Neve ao seu espelho mágico: “Tem alguém mais linda do que eu?” é, obviamente, a pergunta que qualquer pessoa narcisista (e todo mundo é nem que seja um pouquinho) jamais deveria fazer. Pois, não importa quão belo, jovem e atraente você é ou foi: sempre haverá alguém mais belo, jovem e atraente do que você nesse mundo.
Envelhecer é uma cruz maior para as mulheres. Pois, ainda que um homem seja considerado inequivocamente velho, caso possua dinheiro terá o mundo inteiro jogado a seus pés. Com as mulheres o caso é diferente, a vaidade pesa bem mais, e mesmo as multimilionárias, não tenham dúvidas, dilapidariam suas enormes fortunas para terem de volta o irrecuperável viço dos seus vinte anos, ou até mesmo de uns meses atrás.
As mulheres agem assim porque pensam que serão implacavelmente condenadas se não continuarem atraentes. E os juízes mais cruéis delas nem são os membros do sexo oposto, mas as suas rivais, que se aperfeiçoam cada vez mais na arte de enganar o tempo. Isso porque tanto no jogo do amor quanto no concorrido mercado do sexo são supervalorizados os atributos físicos invejáveis da juventude, embora, na maioria das vezes, poder, dinheiro, inteligência e charme pessoais pesem mais na balança para a escolha de um(a) parceiro(a).
Somente aqueles que, definitivamente, se consideram fora do páreo se dão ao luxo perigosíssimo de descuidar da aparência. É o caso de tanta gente casada, comprometida ou enroscada que eu conheço. Mas há sempre riscos nessa atitude:
"Bola? Eu chuto!" – disse uma vez o meu irmão, com aquela sinceridade irônica típica dos adolescentes, à namorada, só porque a moça acabou engordando umas gramas nas férias. Aqueles que nunca foram chutados apesar de roliços devem ser as pessoas mais felizes do planeta.
Aceitar a passagem do tempo não é para todos. Como aceitar a ideia do envelhecimento, das doenças e da morte se essa é uma pílula amarga demais de se engolir? Hoje em dia, fala-se muito em buscar uma maior qualidade de vida, e as pessoas parecem ter duas opções: envelhecer bem ou envelhecer bem mal.
Exercitar-se, ocupar o corpo e a alma, comer comida saudável, evitar o álcool e o cigarro, etc. Somos bombardeados diariamente pelas dicas de como viver melhor da televisão, das revistas, da Internet, e até mesmo em nossas rodas de amigos (que é melhor não exagerarem muito nos conselhos saudáveis para não correrem o risco de perderem os amigos).
Mas o fato é que se pode chegar, sim, a uma velhice mais saudável e mais sábia. Antigamente (lá vou eu...) as pessoas sabiam envelhecer com uma aura digna. Eram chamadas (quando mais conservadas que as outras) de coroas enxutos (risos). Nada contra tingir os cabelos para não se parecer com a bisavó dos outros, mas há quem troque os pés pelas mãos. Hoje se veem muitas mães idênticas às filhas, querendo falar e se vestir como se fossem mais uma coleguinha da turma e não mães. E tem muitos homens incapazes de lidar com a própria maturidade, que ficam morando com os pais até aos quarenta, ou mais, completamente dependentes. Essas e esses querem permanecer como menores de idade eternos. São um sintoma de nossos tempos, de uma cultura infantilizada que vende a ideia furada de que seremos jovens para sempre.
Tanta ênfase e foco na juventude faz com que o idoso e tudo o que ele representa sejam menosprezados. É um fato muito sério, e num país em que a idade média da população só vêm aumentando, chega a ser escandaloso. Os jovens que desdenham ou até maltratam os mais velhos parecem ignorar o fato de que um dia também envelhecerão, adoecerão e morrerão. Adquirir essa consciência já implica em maturidade, e como sabemos hoje a garotada foge da maturidade como o diabo foge da cruz.
 Tais jovens e muitos adultos metidos a garotões encaram a velhice dos outros como se fosse uma comédia ou uma tragédia pessoal. Não o processo natural de quem veio tocando o barco ao longo de muito tempo. Como a medicina e a tão propalada adoção de hábitos saudáveis ajudam a prolongar bastante o tempo de vida das pessoas, o ideal era que os extremos etários da nossa sociedade aprendessem a conviver mais e melhor com as suas diferenças. Que todos trocassem experiências e conhecimentos entre si: jovens e idosos.
Afinal, seria muito útil uma campanha na tevê que conscientizasse as pessoas de que todos nós começamos a envelhecer e a morrer desde o momento em que somos concebidos.

Coisas que eu fazia antes e agora não faço mais

1. Ler qualquer tipo de livro

Antes eu devorava todo e qualquer tipo de livro que me caísse nas mãos. Os bons, os maus e os mais ou menos. Depois, como aqueles pacientes que recebem umas reprimendas de seus cardiologistas, eu comecei a restringir a minha gulodice. Passei a selecionar mais as minhas leituras e a refinar os meus gostos literários. Tomando o devido cuidado de só ler os bons autores. Mas claro, é preciso aprender a separar o jóia do joio. Não é preciso ter um sexto sentido aguçado pra se perceber quando se está diante de um grande autor ou de uma besta completa. Basta ler as primeiras palavras do livro. Todo escritor tem a obrigação moral de escrever bem. E se, ainda na largada, ele não escreve bem, é porque não passa de um impostor. Muitos dos mais aclamados autores de sucesso se examinados com atenção pelo leitor não passarão de medíocres digitadores de textos e é recomendável passar ao largo de suas obras. Claro está que um sujeito que dê títulos como “Brejal dos guajás” ou “Marimbondos de fogo” a seus calhamaços não tenha a menor noção de como se exerce o seu ofício.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Facetruques

Rede social é um local cheio de pessoas sem nada para dizer, mas que ficam dizendo uma montanha de coisas.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Descoberta


Só a poesia me salva, só a palavra me justifica, só a escrita me redime da minha monótona insignificância.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Água de Pedra


Pesquisando textos que falem sobre São Luís para ajudar uns amigos num projeto, logo eu me dei conta: quase não tenho livros que falem sobre São Luís. De cabeça, lembro do Poema Sujo, do Ferreira Gullar, que é, todo ele, sobre nossa cidade e de algumas coisas contidas na Luta Corporal. Assim como lembro das primeiras palavras de O Mulato, do Aluísio Azevedo, que fazem alusões ao calor tão típico daqui. Mas nem tenho esse livro. E lembro de um ou outro soneto do Nauro Machado, que não são exatamente lisonjeiros com SL. E é só. De Bandeira Tribuzzi não li nem conheço nada. Josué Montello, piorou. De modos que a tarefa se revelou das mais árduas, tipo extrair água de pedra. Vão desculpando aí, meus amigos, que o negócio tá ruço.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Vivo ou Morto?

A Vivo e outras empresas têm essa mania ridícula de dar telefonemas para a santa paz do meu lar anunciando serviços e ofertas que não me interessam, e o que é pior, nem há um ser vivo por trás dessas ligações, e sim uma horrível voz gravada, impessoal, cretina. Como me recuso a ouvir as falas de uma máquina, e insisto em ser tratado como ser humano, devo parecer muito, mas muito mesmo, antiquado.

Livros? Pra quê?


Fico inconformado com o suposto "progresso" da nossa ilha, com xópins novos para o consumo de toda sorte de tralhas, exceto livros. Podem reparar: não há livrarias nem sequer bancas de revistas nos dois mais recentes templos de consumo direcionados paras as classes A, B, C... parece até que a ignorância se tornou nossa característica oficial: que os maranhenses todos esqueceram o abecê, e como bons analfabetos de pai e mãe, não leem nem escrevem coisa alguma.

As coisas são bem diferentes em toda e qualquer capital desse Brasilzão afora, pois há muitas cidades que não ficam se orgulhando tanto de sua cultura (como São Luís. que apregoa aos ventos ser um berço de poetas e intelectuais), mas em compensação, nessas cidades encontram-se lojas de livros, dvds, cds, etc descomunais como a Livraria Cultura, a Saraiva ou a Fnac, que por aqui não se atrevem a abrir nem uma birosca.

As pessoas me dizem: "Ora, aqui essas livrarias não encontrariam compradores. Aqui ninguém lê. Aqui as pessoas mal sabem assinar o nome." O que me parece sintomático de nosso atraso cultural, educacional e como povo. Uma cidade às margens de qualquer civilização? Gente, e as tais universidades? Elas estão aí para quê? Porque os colégios da nossa ilha, não tenho a menor dúvida, se ensinam algo, e devem ensinar, afinal são todos muito caros, não tem tido êxito nenhum em letrar os jovens. A garotada por aí, espero estar enganado, mas não creio, me parece ter ódio de livros.

Nossas poucas, cada vez mais raras livrarias e lojas de cds ou dvds fecham as portas, incapazes de competir com as grandes livrarias da Internet ou mesmo com camelôs de esquina (que podem comerciar produtos piratas à vontade, sem pagar impostos). Não é à toa que São Luís parece ter parado no tempo. Não é respeito a tradições do passado. Simplesmente nossa cidade foi riscada do mapa cultural.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

domingo, 1 de abril de 2012

Hein?

Não, eu não curti:


- O disco brega da Marisa Monte;

- O Sítio do Picapau Amarelo em desenho animado;

- O BBB12;

- O final, o começo e o meio da novela Fina Estampa;

etc.


sexta-feira, 30 de março de 2012

A Nous Amours


Amo de paixão os filmes do diretor francês Maurice Pialat. Suas imagens são de um realismo nu, seus diálogos (muitas vezes improvisados) são ferinos e precisos, seus personagens são absolutamente críveis como gente e as situações mostradas lembram que a vida pode ser um inferno, mas tem lá os seus momentos.

O cinema de Pialat dá continuidade, a seu modo, a uma longa tradição literária francesa, que é maldita na atitude e venenosamente antiburguesa no sentimento, dando um tapa na cara da sociedade, como em Baudelaire, Verlaine, Rimbauld, Gide, Villon, Genet, e sobretudo, em Gustave Flaubert.

De seus filmes, destaco Loulou (foto), com os desempenhos sublimes de Isabelle Huppert e Gérard Depardieu, A Nossos Amores (1983) e Infância Nua (1968).

"Prefiro um vagabundo que trepe bem a um ricaço que me encha o saco", diz a magnífica Huppert ao ex-marido chato e brutal, que pede para ela voltar para casa. Touché.

Shit always happens

Ontem peguei um busóide errado. Quando eu ia pedir para saltar, aconteceu: o ônibus freoou bruscamente para não colidir com um carro (atravessado na pista de maneira criminosa, pois como é notório dirigem muito mal e porcamente os ilhéus!). Não consegui me segurar com firmeza (eu era o único passageiro em pé) e só deu para mim, que voei para a frente do ônibus, caindo feio e batendo a cabeça no vidro do parabrisa (que acabou trincando). Sempre fui cabeça dura. Mas dei sorte, afinal. Estivesse o ônibus com um pouco mais de velocidade e eu não só teria atravessado o vidro como não estaria aqui para contar esta história.

Obs: Caí na bobagem de contar essa história na sala de aula e uma das alunas soltou a gargalhada mais estrondosa que já ouvi na vida. Vivemos num mundo absolutamente impiedoso.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Comédias Divinas



- E aqui fica o dark room, onde o povo se joga e os go-go boys tiram TUDO...

quarta-feira, 28 de março de 2012

Luto

O Brasil fica mais burro e sem graça com as mortes de Millôr Fernandes e de Chico Anysio, terra onde só os políticos e suas avacalhações competem com os grandes humoristas para nos fazerem rir. É de chorar.

terça-feira, 20 de março de 2012

O Crime Perfeito


Não existem crimes perfeitos, reza um velho clichê de livros e de filmes policiais, mas não é bem assim aqui no país do samba, do futebol e da mutretagem no trânsito. Sempre achei que se no Brasil alguém quisesse cometer um assassinato e depois sair impune, bastaria usar um automóvel como arma. O pimpolho do Eike que o diga: acumulava uma porrada de pontos por excesso de velocidade... mas e daí?

Cinéfilo

Para quem, tipo eu, achou que aquela listagem do livro "1001 Filmes Para ver Antes de Morrer" era pouco (de fato, só me faltam 147 filmes dos mil e um), vale conferir essa listagem aqui, com Outros 1001 Filmes Para Ver Antes de Bater as Botas, compilada por um punhado de cinéfilos doentes e incorrigíveis.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Persona


Sempre relendo o inclassificável Livro do Desassossego, este livraço que é também um não-livro, um todo fragmentado, descontínuo, livre pois absolutamente solto de obrigações e temas. Trata-se de uma coletânea luminosa de perplexidades murmuradas na solidão. É uma daquelas obras imprescindíveis de tão milagrosas, em que as palavras traduzem o homem, ou seja, o homem por trás da máscara de Bernardo Soares: o múltiplo Fernando Pessoa que registra ali algumas das suas singularidades mais surpreendentes.

quinta-feira, 8 de março de 2012

O Fracasso da Educação

"Cuidar das pessoas" é o lema do governo de nosso estado, mas na prática é preciso tomar cuidado com a incompetência dos que dizem que vão cuidar dos outros.

Na escola estadual em que trabalho não havia professores suficientes para dar aulas hoje, nem pincéis para escrevermos no quadro branco, não havia sequer papel na sala de xerox, nem merenda na hora do lanche... Vale perguntar (como se não soubéssemos a resposta): onde foi parar a verba destinada à Educação? No cofre de quem? No bolso de quantos?

Mas não pensem que não temos nada na escola. Havia algumas aranhas mortas no garrafão de água da sala dos professores, por exemplo.

O mais triste dessa história toda de descaso com a educação é que a corda arrebenta sempre do lado mais fraco.Hoje mesmo uma aluna (de apenas onze anos) saiu conduzida por ambulância, depois de sofrer um colapso aterrorizante em plena escola devido ao consumo excessivo de drogas.

Muitas de nossas crianças hoje veem mais sentido nas drogas que as destroem do que numa educação que fracassa em educá-las...

Dando um upgrade em Warhol



No futuro todos serão famosos por apenas R$ 15,00.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Um Sonho


Só me lembro de dois fragmentos deste sonho, ambos perturbadores.

No primeiro estou andando na rua e vejo um dos primeiros quadros que pintei na vida destruído, atirado na calçada como lixo.

O segundo fragmento é muito pior. Estou deitado na cama (em meu antigo quarto na casa dos meus pais) e no canto próximo à janela, sentado numa cadeira, vigiando-me silenciosamente, há uma figura, inteiramente coberta por panos e tecidos brancos, uma espécie de burca branca.

No mesmo instante em que comecei a dizer as terríveis palavras: "É o anjo da morte", acordei, com a palavra anjo ainda escoando de meus lábios.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Gifs do ano





OOOOOOOOOOOOOOI???????

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Mantras


Cansaço, tédio, marasmo nunca mais. É preciso reinventar a roda. Sair da casca podre da rotina. Ser. Crescer. Nascer todas as manhãs.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Curta um curta

Curta de animação indicado para o Oscar 2012 que é uma declaração de amor aos livros:

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O Retorno



Acabado o carnaval, o ano de 2012 finalmente pode começar. Mas o Brasil inteiro já começa de ressaca, com o pé esquerdo e faltando dois dias para o fim de semana.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

A Song For Augusto

Sempre que ouço Roxy Music imagino que estou penetrando num velho castelo europeu: decadente, mas magnífico. Arte, para mim, tem que ser arrebatadora.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Pain


Às vezes a minha relação com o meu próprio corpo lembra um filme do David Cronenbergh. Expelir um cálculo renal de madrugada, ninguém merece passar por um inferno desses, PQP!

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Domingão do Fastio

A falta de cultura dos pobres me assusta. A falta de cultura entre pessoas da classe-média me entedia. Mas a falta de cultura da nossa classe dominante me enoja.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Diva Pop

Beth Ditto, a vocalista punk/lésbica/feminista do Gossip vem aí com seu primeiro disco solo em 2012. Já há um EP de 2011 da fofa, com algumas faixas dançantes e deliciosas, produzidas pelo Simian Mobile Disco. Madonna e Lady GaGa que se cuidem!

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Nem pense em perder

A grande sensação promete ser Don't Think, o filme em 3D dos Chemical Brothers, decolando nos cinemas mundiais como uma gigantesca nave espacial psicodélica no dia 26 de janeiro.

Infelizmente para nós nativos de upaon-açu, a sala mais próxima que exibirá o filme fica em Fortaleza (CE).

Muita inveja de quem conseguir embarcar nessa viagem alucinante:

sábado, 21 de janeiro de 2012

Cadê o Sol?

O sábado amanheceu nublado, mas desejo a todos um fim de semana com bastante sol. E para entrar no clima, deixo esta música do Caribou.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Pornografia

Nestes tempos em que um suposto estupro aumenta em 80% a audiência de um programa de tevê, não é de espantar que muitos jovens evitem ler livros: Literatura lhes parece um entretenimento caretão.  As bibliotecas viveriam cheias se eles soubessem que Lolita, de Nabokov, é sobre um pedófilo às voltas com uma menina corrupta, ou que Paul Bowles tem um conto em que o pai come o próprio filho e depois é chantageado pelo garoto, ou ainda que Raduan Nassar, em Lavoura Arcaica, já inicia a história (de incesto, irmão com irmã) com um rapaz se masturbando num quarto de hotel. 
Talvez não, afinal o grande problema da educação brasileira é que a garotada deixa os bancos escolares sem saber ler, escrever ou fazer os cálculos mais simples. Não tem Brasil Sem Miséria enquanto não se decidir sanar isso.
A tevê, com seu amplo espectro de baixarias, ainda é a única referência cultural para uma multidão de iletrados.

Fitas




Esta semana tem Steven Spielberg em dose dupla nos cinemas. Cavalo de Guerra e As Aventuras de Tintin. Pelo menos as pipocas estão garantidas nas férias.

Ceia

A grande lembrança do final do ano passado foi a festinha de Natal, familiares bebendo todos juntos, situações embaraçosas na certa, como o longo discurso de um primo, velho comunista, glorificando a múmia de Fidel Castro e reafirmando Cuba como o paraíso na terra.

Tudo bem acalentar utopias, mas não deliremos. Cuba é a última gaiola do mundo em que ainda se encontra vivo o Socialismo, animal mais extinto que o dodô no resto do planeta.