sábado, 31 de dezembro de 2011

Alguns bons filmes de 2011

Não vi muitos filmes nas telas grandes este ano porque as biroscas que chamamos de salas de cinema cismaram de só repassarem filmes de quinta categoria a nós, público pagante, em 2011.

Mas graças aos céus existe uma coisa chamada Internet.

Uma breve listinha com alguns dos melhores filmes do ano, dentre os que vi:



1. Drive, de Nicolas Winding Refn

Um filme violento, brutal, estiloso e inesquecível, em que Ryan Gosling faz um sujeito cool, fiel a seus quietos princípios, com um modo de viver tão nebuloso e cinzento que me lembrou o de Alain Delon, em O Samurai, obra-prima de Jean-Pierre Melville, além de seguir a tradição de O Estranho Sem Nome, de Don Siegel, em que Clint Eastwood encarnava um vingador implacável e mítico.



2. A Árvore da Vida, de Terrence Malick

Malick é o único diretor em atividade que pode ousar uma conexão com 2001: Uma Odisséia no Espaço, sem cair no ridículo. A Árvore da Vida é um filme exigente, denso, belo, poético, difícil e único. Centra-se no dia-a-dia de uma família americana nos anos 50, mas apenas se enraiza nesse contexto específico para retratar as ramificações da vida em seus ciclos universais de amor, nascimento, generosidade, medo, tristeza, alegria, prazer, dor, perda, morte e espiritualidade.



3. Meia-Noite em Paris, de Woody Allen

A nostalgia foi o sentimento predominante nos filmes de famosos cineastas norte-americanos. Mas ninguém soube equacioná-la melhor que Woody Allen, que lhe deu os tons de comédia e leveza necessários para lidar com um tema no minímo pertinente: o desconforto do homem contemporâneo com o tempo em que vive, o sentimento de pertencer a uma outra época, em que "as coisas seriam melhores", ou seja, romantismo escapista. Woody lida magicamente com a nostalgia e dribla-a, com sabedoria.



4. A Pele Que Habito, de Pedro Almodóvar

Almodóvar reinventou os seus temas ao abordar o gênero Horror e acabou criando algumas das cenas mais surpreendentes, e de tirar o fôlego, de toda a sua cinematografia.



5. Melancolia, de Lars Von Trier

Massacrado pela crítica após declarações polêmicas, e acusado de apenas repetir os passos de outros cineastas do extinto grupo Dogma, como o inesquecível Thomas Vitherbergh de Festa de Família, Lars Von Trier consegue, no entanto, o milagre de transformar em signos visuais objetivos o tormento puramente subjetivo da depressão. O efeito é dilacerante e desolador.



6. Contra o Tempo, de Duncan Jones

Ótimo exemplar de ficção científica que passou quase despercebido nos cinemas, com um enredo um tanto implausível (quase um episódio tirado da série televisiva Além da Imaginação), mas que é conduzido magnificamente por Duncan Jones (Lunar), além de contar com belos e eficientes efeitos visuais. Diversão garantida.



7. Contágio, de Steven Soderbergh

Outra ficção científica, mas esta em tom sóbrio, de documentário, mostrando os prováveis eventos que afetariam o mundo no caso de uma epidemia de gripe ainda mais fatal que a gripe espanhola, dizimando grande parte da humanidade e transformando a civilização atual num caos generalizado. Filme globalizado, com cenas anticlimáticas, sem ação, que prende a atenção do público a seus menores e precisos detalhes.



8. A Separação, de Asghar Farhadi

Soberbo filme iraniano, que mostra as dolorosas, imprevisíveis e enlouquecedoras consequências da separação de um casal. Ela quer ir para a Europa, para criar a filha num ambiente político e social menos opressivo, já ele pretende continuar no país para cuidar do pai, que está com o mal de Alzheimer. Ambos têm razões fortes e válidas, mas os fatos os colocam num choque de interesses, que acabará por envolvê-los e a todas as pessoas ao redor numa espiral crescente de conflitos, mentiras, desentendimentos, ressentimentos, acusações, sofrimento e perda de confiança.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Tributo Iconoclasta


O Tumblr Renato Era Chato publica tirinhas de humor que ironizam a "genialidade" das letras entoadas por Renato Russo, mostrando situações em que elas soam no mínimo inadequadas. Uma garantia de boas risadas para os fãs e para os detratores do Legião Urbana.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Livraço, livresco


Ótimo romance é o divertidíssimo Dublinesca, do escritor espanhol Enrique Vila-Matas. Irônico, alusivo, metaliterário, como todos os livros de Vila-Matas, Dublinesca é a história de um editor de livros que decide ir a Dublin com sua trupe de amigos no Bloomsday, para celebrar o que ele considera o funeral da era de Guttenberg, apostando no ocaso do livro impresso nesta nossa insurgente época de livros digitais.

O narrador é um sujeito que se sente sem papel a desempenhar após a venda de sua editora, e que fica tantas horas em frente ao computador que se compara a um hikikomori, o adolescente japonês obcecado por Internet, sem vida social, que fica anos a fio trancado num quarto.

Vila-Matas segue mais uma vez suas obsessões, temas, dilemas e leitmotivs, referindo-se às obras de inúmeros outros autores, sobretudo os irlandeses James Joyce e Samuel Beckett. É reflexivo e  também em suas preferências cinematográficas como Spider, de David Cronenberg, ou musicais, como ao ouvir a bela "Just Like The Rain", de Richard Hawley.

Livro do ano. E talvez a obra-prima de Vila-Matas.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Cinema à Flor da Pele


A Pele Que Habito (2011), de Pedro Almodóvar, é um filme magnífico, cheio de reviravoltas, cenas perturbadoras e surpresas deliciosamente pervertidas. Além de ser o primeiro do diretor espanhol a se enquadrar no gênero Horror, um gênero ambíguo por excelência, que exige de seus melhores realizadores toques de humor e de kitsch (pensemos em Frankenstein, Dracula, O Lobisomem, A Múmia, etc).

Como o cinema almodovariano sempre transbordou de humor e de kitsch, A Pele Que Habito funciona como um híbrido de melodrama, comédia e suspense, bem ao estilo do diretor, contando uma história que envolve imagens e temas caros a inúmeros filmes que criam tensão nervosa: vingança, irmãos que se odeiam, desfiguramento por queimaduras, experimentos científicos torturantes, sequestros, suicídios, um cientista maluco, calabouços escuros, lençóis empapados de sangue, etc.

Há ainda os temas implícitos, como a dualidade sexual de todos nós, as questões de identidade e de gênero que acabam sendo embaralhadas e postas de cabeça para baixo pelo diretor.

Almodóvar orquestra todos esses temas como um maestro regendo uma partitura.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O cinema que habito

Mal foi divulgada a lista dos indicados ao Globo de Ouro, e já estou inconsolável. É que - com a honrosa exceção de Meia-Noite em Paris, de Woody Allen - não vi nenhum dos filmes que concorrem à premiação. Afinal, os cinemas dos shoppings aqui na Ilha dos Amores ainda querem exibir o tal do Amanhecer.


Mas tudo que é chato tem sua exceção. Hoje rola a estreia do mais recente filme do enfant terrible Pedro Almodóvar, A Pele Que Habito (foto), com Antonio Banderas no papel perturbador de um cirurgião plástico maníaco, que concorre na categoria Melhor Filme Estrangeiro, e que será exibido por aqui no Cine Praia Grande. Oba Oba Oba. Acabou-se a tristeza!

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Então é Natal



Em matéria de cafonice natalina, nada supera a decoração da Praça Maria Aragão, aquela mesma rabiscada pelo arqui(tétrico) Oscar Niemeyer. Se o velhinho comunista não fosse vivo, provavelmente estaria revirando na cova com o atentado ao bom-senso dos nossos "decoradores".

Reparei hoje que lá no meio daquele deserto de concreto armado resolveram colocar uma casinha toda coberta de neve. Foi isso mesmo que vocês leram aqui: Apesar do sol implacável de 40 graus à sombra, temos neve nos enfeites natalinos da cidade. Incluindo uns bonecos de neve toscos que enfeitam constrangedoramente o local. E umas ovelhinhas plantadas na grama. Pensem num pavor. Qualquer decoração de shopping de periferia deve dar de dez a zero naquilo tudo.

Fora a árvore monstruosa (pesando 180 toneladas) - ali pertinho - que apesar do gigantismo  parece uma colagem tosca de papel crepom.

Que horrível Natal a prefeitura de São Luís está desejando a todos nós, pobres nativos. Dá vontade de se entupir de sidra vagabunda durante a ceia, apagar, e só acordar no Ano Bom, pelamordedeus!

sábado, 10 de dezembro de 2011

Listinha

O ano sempre chega nos finalmentes quando as revistas e sites especializados resolvem decretar suas listas de melhores discos. A Rolling Stone, por exemplo, já divulgou sua lista dos 50 melhores álbuns do ano. Deu Adele na cabeça. "Rolling in the Deep" talvez seja o hino do ano. Dos outros, ouvi pouquíssimos: Feist, Decemberists e outros menos cotados. Que 2012 seja mais rico em bons sons. Confiram a lista clicando aqui.

A Burrice Unânime que Passa por Cultura

"Toda unaminidade é burra", já dizia o grande Nélson Rodrigues, ele mesmo alçado à condição de unanimidade nacional, forte representante, portanto, da burrice generalizada e autocomplacente que é nossa cultura.

Penso nisso tudo depois de uma postagem no blog do Tony Goes sobre uma das poucas outras unanimidades brasileiras, Fernanda Montenegro. Ela é, evidentemente, endeusada por pública e crítica como a primeira dama dos nossos palcos, e merece todas as glórias e salvas de palmas, penso, mas sempre há quem seja do contra. Lembro que, na minha já remota adolescência, conheci uma jovem estudante de cinema que considerava a atriz uma tremenda canastrona "sempre fazendo o papel de Fernanda Montenegro".

Lembro que suas opiniões cavaram uma espécie de abismo estético entre nós dois. Se Fernanda Montenegro não sabia representar, então quem entre nós, pobres tapuias, sabia? Até hoje eu busco que a performance de um ator ou atriz me responda isso. Acima de nós, só as estrelas, cantava Guilherme Arantes.

Sei que de canastronice em canastronice seguimos em frente, fazendo teatro, batendo bola, escrevendo blogs. Vivemos numa cultura atroz, de negação da grandeza, de grandes fracassos individuais e coletivos. Talvez a marca de nossa cultura seja a unanimidade do nosso fracasso. Não é uma mera questão de baixa auto-estima de uma nação, como tantos sociólogos martelam por aí, afirmando que nosso pessimismo seria a resultante da soma de nossas três raças tristes. Peço licença pra discordar. O economista John Kenneth Galbraith dizia que o pessimismo caracterizava a mentalidade superior, levando em conta o otimismo imbecilizante das maiorias.

Pessimista, a meu ver, é alguém que vive em perpétua perplexidade existencial. Nosso povo, carente de cidadania e de tudo o mais, é otimista como o dr. Pangloss, só enxergando até a ponta do próprio nariz e achando que vive no melhor dos mundos. Machado de Assis foi quem entendeu melhor os nossos sentimentos:

Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: — Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Confissões do Segundo Andar

Se desejarem se divertir à noite em São Luís, e forem sadomasoquistas, a dica é pisar na casa noturna 2nd Floor. Mesmo que você tenha sido o primeiro a chegar, e garanta uma mesinha, esta lhe será tomada por algum Filho de Bacana, que  chegará com um balde de champagne, expulsando você de sua mesa (os próprios garçons da casa providenciarão a sua remoção para que o Bacana se instale no seu lugar, não importa se você chegou antes e se estava consumindo).

Por mais que o som da casa seja legal (e os Djs Jorge Choairy, Nivandro e Pedro Sobrinho são um trio inigualável, de longe figuram entre os melhores da ilha), o risco de discriminação e deselegância que se corre no local é muito grande. Na 2nd Floor, o atendimento é desigual: o dinheiro grita mais alto, e se você não for do clubinho, corre o risco de ser posto em seu devido lugar (a puta que o pariu) pelos filhotes da elite maranhense.

É a lei da selva. A única que existe por aqui.

Descomplicando as coisas

 

Caso algum amigo invisível (ou visível) queira me presentear no Natal, fica essa sugestão no ar: o livro novo da Danuza Leão, "É Tudo Tão Simples" é tudo que eu quero. Para que complicar (mais) a vida?