segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Sessão Antes Tarde do Que Nunca


É imperdoável que só agora eu tenha assistido ao belo "Café da Manhã em Plutão", de Neil Jordan. O filme é de 2005! Ou seja, já tem uma eternidade. Vocês talvez se recordem que 2005 foi rotulado como o "ano gay" do Oscar, porque vários filmes de temáticas LGBT como O Segredo de Brokeback Mountain, Transamerica, concorriam a estatuetas. (Se não me engano quem abocanhou o Oscar de melhor filme nesse ano foi o chatérrimo Crash - No Limite). Pois bem, em Café da Manhã em Plutão, o ator Cillian Murphy desempenha de modo sublime, ora engraçado ora comovente. Várias cenas do filme fazem rir. Outras me fazem verter lágrimas. Algumas vezes as duas coisas aconteciam juntas... Uma performance única e imperdível. Assistam ontem!

Um cd só para os Björkófilos


"Biophilia"(2011) é o título do novo álbum de Björk (faço questão de pôr os pingos no o dessa cantora islandesa, afinal o pobre trema foi aposentado para as palavrinhas e palavrões da nossa própria língua e só o reutilizaremos em ocasiões como essa). Mas este novo cd não soa assim tão novo. É estranho pra caramba, e os modernos de plantão dirão que "é ousado". Exatamente como os últimos discos dela. Só que é muita "ousadia" para o meu gosto. Depois que a última música acaba, dá aquela certeza de que não vou ouvir novamente tão cedo...

Ou seja, é mais um osso duro de mastigar, tipo o "Medúlla"(2004). E é chato ter que dizer isso de uma cantora que não se acomoda com o sucesso e vive se reinventando e à sua carreira, mas é fato: o grande disco de Björk continua sendo até hoje o primeiro: o mágico "Debut" (1993), embora os dois seguintes, "Post" (1995) e "Homogenic" (1997) também sejam álbuns brilhantes. O deliciosamente esquisito "Vespertine" (2001) é a trilha sonora perfeita para um namoro. Isto é, se o seu namorado for artista performático. Ou um alienígena.

Às vezes, como fã antigo (desde quando os Sugarcubes surgiram no mapa), dá vontade de pedir à cantora que largue as invencionices de mão e grave um disco sem tantas frescuras e modernidades. Mas isso deve soar como sacrilégio para os fãs roxos da diva. Podem ter certeza: se você não for um deles, dificilmente se apaixonará por esse "Biophilia".

Cidadã Kate


Dia desses encontrei um amigo que não via faz um tempão. Foi na entrada dum cinema. Começamos a falar de filmes e dei grande atenção às suas dicas (ele sempre dá ótimas dicas de filmes e discos). Confessou-me fazer download de tudo quanto é filme pela Internet. (Eu não faço, e hoje devo ser muito antiquado, pois ainda compro DVDs e Blu-Rays!)

A conversa num piscar de olhos enveredou para o universo das séries americanas. Aí perguntei se ele acompanhou a série Mildred Pierce, dirigida por Todd Haynes, com a atriz Kate Winslet. E ele, para minha surpresa, disse o seguinte:

"Odeio a Kate Winslet. Acho ela feia, gorda e chata. Por mim, ela devia ter morrido e afundado junto com o Titanic!"

Ri muito, na hora. Mas achei um comentário muito radical. E um bocado injusto. Em primeiro lugar, não acho Kate Winslet feia. Talvez não seja linda. Mas toda atriz tem de parecer uma top model? Beth Davis certamente não encaixava muito no padrão hollywoodiano de beleza. Mas, e daí? Ajeitadinha, com a maquiagem, as roupas e o corte adequados Kate sempre fica muito agradável aos olhos. Pensem na presidente Dilma, que não tem personal stylist que dê jeito. Kate pode ter uma beleza meio rotineira para muita gente, mas eu não acho. Sou acostumado a ver gente tão monstruosa no meu cotidiano que um rosto como o de Kate é um colírio para olhos aflitos.

Gorda? Não mesmo. E, ainda que fosse, estar com alguns quilinhos a mais (o que não é o caso) é algo perfeitamente normal. Já a anorexia nervosa - como no caso dessas modelos famélicas de hoje - é uma doença, e muitas vezes, fatal. Por sinal, dizer que uma mulher "é ou está gorda" é considerada uma das piores ofensas possíveis hoje. Por quê?

Tanta obsessão pela magreza faz com que as atrizes perambulem como esqueletinhos do Halloween nos filmes de Hollywood (Ontem vi o bom A Troca, com Angelina Jolie e fiquei assustado, a atriz estava só osso e beiço no filme). Muitos gordos devem se sentir vítimas de bullying quando esses chatonildos de plantão insistem em ensinar na TV "como levar uma vida melhor e mais saudável". Bom, pra começar, podiam desligar a televisão.

Aliás, quem estava meio rechonchudinho era o meu amigo que odeia a Kate Winslet. Mas TUDO BEM.

Kate, chata? Eu devia ter perguntado: na vida real ou nos filmes? Em qualquer lugar? Não sei se ele tem acesso à vida pessoal da atriz para saber quão chata ela é no dia-a-dia. Na ficção, tudo bem, há personagens que realmente são muito chatos. Filmes inteiros que são chatos. Não acho que seja o caso da atriz, que sempre soube fazer boas escolhas, começando pelo magnífico Almas Gêmeas. Tudo bem, Titanic, com aquela música xarope da Celine Dion (essa sim uma chata de galochas) não é um programa agradável para muita gente (danem-se, eu gosto!). Mas Kate está soberba enquanto o resto do elenco vai submergindo, e igualmente admirável em filmes como Hamlet, Pecados Íntimos, Foi Apenas Um Sonho, a minissérie Mildred Pierce, etc. Falta vê-la em Contágio (que amanhã pretendo assistir).

Esse meu amigo às vezes costuma voltar atrás em suas opiniões. Lembro de uma vez em que deixei de comprar um cd que achei numa loja, pois ele criticou sem dó o mesmo. Anos depois falei sobre esse mesmo disco, e ele me confessou que o adorava. Que era um dos melhores da banda (Jesus and Mary Chain, o cd se chamava Automatic). Portanto...

Gostos e Desgostos

Dando umas voltinhas por blogs alheios, percebo que blogueiros têm uma fixação por criar posts com enquetes que falem de coisas "de que gosto/de que não gosto", nas quais os leitores deixam montanhas de comentários falando também de suas preferências pessoais.

Ok. Como aqui no meu "Estranho Mundo" nunca fiz nada parecido, para não perder o bonde darei início a uma série de posts ao estilo "gosto/não gosto". Começando por um dos meus assuntos favoritos: livros. Primeiro os que me irritam muito.

NÃO GOSTO DE LIVROS:

01. de auto-ajuda (que, acredito, só ajudam mesmo os seus autores, que enriquecem com a venda dos tais. Esse tipo de livro sempre me cheira a auto-engano, afinal somos todos adultos e aprendemos que não existe Papai Noel, nem Coelhinho da Páscoa, nem pote de ouro no fim do arco-íris);

02. didáticos de língua portuguesa (pois, como professor, reparo que quase todas as publicações das editoras voltadas para o ensino médio pecam pelo excesso de informação visual. É tanta poluição de imagem, fotografia, tirinha, desenho, e não-sei-mais-o-quê, que o texto e a reflexão que ele desperta deixam de ser substanciais para se tornarem detalhes, meros acessórios muitas vezes dispensados pelos alunos);

03. best-sellers em geral (lixo pré-fabricado segundo fórmulas ridículas);

04. livros religiosos em geral (é melhor nem comentar para não ser acusado de intolerante);

05. livros simplesmente mal escritos (e aqui eu incluiria uma gama quase infinita de autores, encabeçada pelo emblemático Paulo Coelho, cuja ruindade e pobreza de estilo são notórios);

06. livros policiais e de mistério (que só leitores triviais levam a sério);

07. biografias de celebridades (alguém me explica o fato do tal do Justin Bieber já possuir uma biografia?);

08. romances água-com-açúcar (Há a variação Sidney Sheldom da coisa. Aqueles que são piegas mas acrescentam uma pitada generosa de sexo, ganância, suspense e crime, mas que ainda assim continuam intragáveis, não passam de roteirões de telenovelas);

09. romances regionalistas com fortes doses de realismo fantástico (uma receita indigesta seguida à risca pelo literato e presidente do Senado José Sarney. Melhor sair gritando por socorro);

10. livros escritos por blogueiros (Afinal, Bruna Surfistinha não é, definitivamente, uma nova Lígia Fagundes Telles).

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

A Cozinha Nada Maravilhosa de Jeanne


Hoje finalmente criei coragem e assisti às três horas e 12 minutos de um dos filmes mais desafiantes dos anos setenta, "Jeanne Dielman" (Jeanne Dielman 23, quai du Commerce, 1080 Bruxelles), da diretora feminista Chantal Akerman.

O cotidiano de Jeanne (Delphine Seyrig), uma dona-de-casa que fica se ocupando com tarefas que ninguém merece o dia todo, é enfadonho: ela prepara o jantar para um filho adolescente, faz compras, vigia o filho dos vizinhos (talvez o bebê mais abominável já mostrado pelo cinema) e ganha alguns trocados como prostituta ocasional. Tudo isso quase sem diálogos.

Perto da secura e do vazio existencial dessa senhora até mesmo a minha vidinha de professor parece uma montanha-russa de emoções extremas.

O filme é absolutamente frio e rigoroso ao enfocar a vida sufocante e tediosa de uma mulher que cumpre alienada e silenciosamente as tarefas domésticas. Não há qualquer possibilidade de sonho, amor ou prazer que transcenda uma existência tão medíocre e tão previsível, o que talvez desencadeie a inesperada e impressionante reação de Jeanne, perto da sequência final.

Não é filme para qualquer um. Só os amantes mais pacientes da sétima arte não vão emitir uivos dolorosos quando Jeanne mergulhar nas tarefas repetitivas do seu terceiro dia sempre-o-mesmo. Até quem se maravilha com o andar arrastado dos filmes de Tarkóvski corre o risco de ficar desesperado assistindo a este filme singular, lançado aqui (em bela cópia remasterizada) pela Lume.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Psicanálise musical



Banda que não canso de ouvir, o Music Go Music é uma espécie de Blondie assumido com um leve complexo de Abba.

Este blog é uma rede anti-social

É chato ver que todos hoje, incluindo as cabeças privilegiadas que bolam as exaustivas provas do Enem andam levando a sério as tais redes sociais. Francamente, passar o dia inteiro no Facebook, no Orkut ou no Twitter me parece coisa de quem não faz sexo há muito tempo.

O grande feito da última prova do Enem, na minha opinião, foi dar maior visibilidade ao trabalho do André Dahmer, o genial e ácido humorista que publica as impagáveis tiras dos Malvados.

sábado, 22 de outubro de 2011

Jogo dos Sete Erros



Tanto o pôster do último filme de Woody Allen, "Meia-Noite em Paris" (2011), quanto o de "Contra o Tempo" (2011), de Duncan Jones (filho de David Bowie e cineasta talentoso) pretendem insinuar viagens no tempo. Ambos apresentam o seu respectivo protagonista sozinho, entre imagens de fundo que sugerem as tais viagens no tempo.

As principais diferenças dos pôsteres? Owen Wilson passeia descontraído em Paris, com a mão no bolso, pois no seu filme a ideia de viajar ao passado é algo encantador e revigorante. Já Jake Gyllenhaal corre nervosamente por uma espécie de limbo desértico. Em seu filme as viagens ao passado são como um pesadelo recorrente. O primeiro pôster é sereno, mostra as cores de uma noite estrelada de Van Gogh. O segundo é tenso, explosivo, e em preto e branco.

Gostei muito dos dois.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Perguntar não ofende?

Acho lindo ver o povo brasileiro marchando contra a corrupção dos nossos políticos. Só tenho uma perguntinha: quem foi que votou neles?

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Chico Buar...Quem?

Outro dia, dando aula sobre pronomes, como exemplo eu citei uma certa letra do Chico Buarque. Aí uma adolescente aluna minha, virou e perguntou: "Quem?"

Risos.

Para quem nunca ouviu falar, é o tiozinho aí embaixo. Ele não sabe muito bem o que é a Internet, mas já sentiu na pele o que é o troço.


sábado, 8 de outubro de 2011

A Volta


Outra que está lançando disco novo (após um longo intervalo sem gravar) é a adorável Feist.

Nos últimos tempos, ela andava ocupada demais com a banda indie canadense Broken Social Scene, da qual é integrante.

Fazia tempo que os admiradores não sentiam o gostinho de uma música solo. Acessando o site listentofeist.com dá para ouvir quatro faixas do novo álbum, intitulado "Metals". Basta cadastrar seu e-mail, esperar uma mensagem e depois curtir a voz rouca da moça.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

MGMT e os darks

O maravilhoso MGMT ressurge com um novo disco na praça. Outra boa notícia é que eles andaram regravando uma canção do Bauhaus, justamente a minha preferida do grupo (e, sem dúvida, uma das mais belas canções de todos os tempos): "All We Ever Wanted Was Everything".

Aqui vai a magnífica versão original, com sua estranhíssima letra:

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Diga-me

"Diga-me com quem andas e te direi quem és", sentencia, de modo muito hipócrita, o ditado popular.

O jornalista H. L. Mencken, famoso pela ironia e pela franqueza, por sua vez, escreveu: "Diga-me o que um homem faz para ganhar a vida e eu te direi quem ele é".

Certo, mas nem tanto. Os tempos são bem outros. Ninguém mais consegue adivinhar como é a personalidade do outro baseando-se apenas em generalidades, como o círculo social que fulano frequenta, ou o seu ganha-pão.

Neguinho tem que pensar é nas particularidades: "Diga-me qual é o ringtone do sujeito, e eu te direi quem ele é".

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Cinderela Lisérgica

Para combinar com o clima onírico do poema postado aí embaixo, nada melhor do que o curta "Destino" (2003), uma animação surrealista criada a partir de esboços de Salvador Dali para os estúdios de Walt Disney.

Uma colaboração tão inusitada quanto enigmática. O universo de Dali é suavizado pelo estilo Disney. Mas só um pouco. O resultado mostra uma história de desejo e amor irrealizados, através de imagens bem alucinógenas. Acho que os estúdios Disney pecaram em algumas cenas pelo excesso de facilidades por computação gráfica. Mas apesar disso o filme é bonito.

Água de Pedra


Em meu sono sonoro, eu sou uma pedra

alta, concisa.

Minhas palavras esvoaçam

como aves infinitas.

Meu mito é o silêncio,

O mar verde

De onde o pensamento retira

peixes definitivos.

Em minha música, eu sou

um girassol

fincado no meio-dia.

Minha fulminante natureza de palavra

acende os incêndios da voz.

Eu sou a convergência do fogo

em pensamentos altos,

maleáveis.

Em minha alucinação, eu sou um híbrido de deus e cavalo

Ambos feridos de morte. Minhas palavras celestiais cavalgam

horizontes rubros.

Pertenço à natureza imemorial

de pensamentos definitivos como falos,

espadas,

pedras tumulares.

Em minha imobilidade, eu sou uma árvore

de seiva triste e raízes concisas.

As minhas palavras são brotos

de natureza solar, na plenitude

de uma tarde de verão,

entre cítaras e cigarras.

Nos dedos definitivos

Nasce e morre a flor

do poema.

Em meu fulcro de flor e medo, sedento,

Eu sou um homem.

Estes signos inquebráveis são os delíquios

Rubros

Da minha safra, cifra de treva com pressa,

pulsar de estrelas definidas:

As palavras em chamas que ostento

Ainda doem

Em minhas unhas.

Em meu sopro final, eu sou a água

Extraída da pedra, os póstumos

desejos do morto de sede.

As palavras

Que escavo de sonho

em sonho e que me despertam.

Minha natureza é este rio

Rubro e definitivo.

Um fio

de timbres entre os ruídos

do tempo.


Sandro Fortes, 05/10/2011

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Tímpanos

Para começar a noite, o som aqui fica por conta do Phantogram:

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Aquisições


Domingo recebi o soldo e fui às compras. Uma breve passada pela Nobel "só para espiar". Mas para mim é impossível resistir à tentação dos títulos da Companhia das Letras:

"Meus Prêmios", por exemplo, é obra publicada postumamente, mas, como sempre, irônica, hilária, venenosa, intoxicante, de Thomas Bernhard.

Outro, imperdível, e irretocável, é "O Caminho Para Wigan Pier", de George Orwell. Orwell é um mestre genial, seja no relato das diferenças de classes inglesas, seja no ensaísmo contundente.

Tem um novo do Michael Cunninghan (autor de "As Horas"). Chama-se "Ao Anoitecer". Mas achei o começo meio bunda-mole.

Comprei também "Herzog", de Saul Bellow. Tudo de Bellow me fascina. "As Aventuras de Augie March" é um dos mais cativantes romances já escritos por um norte-americano. Como são cheios de vitalidade os personagens de Bellow. "Herzog", leio de uma orelhada, é o intelectual brilhante, bonitão, papa-todas. Ele casa, aí vira corno, padece o pão amassado pelo diabo. O livro abre com as seguintes palavras: "Se estou louco, tudo bem para mim...".

Phillip Roth também veio na sacola. O livro se chama "Nêmesis". É hipnótico, como tudo que Roth escreve. Ele é um dos dois maiores autores americanos vivos (O outro é Cormac McCarthy). Trata, como todos os últimos livros de Roth, de uma narrativa que envolve judeus de Newark, mas cujo tema principal é a proximidade e a inevitabilidade da morte.

Isso aí. Com tantas leituras finas dá para apreciar este comecinho de outubro.

domingo, 2 de outubro de 2011

Bossa

Domingo de morgação e preguiça geral. No som, "In a Manner of Speaking", uma linda balada do Tuxedomoon, na versão bossa do Nouvelle Vague.