terça-feira, 29 de junho de 2010

Meu Primeiro Romance


Vou tocando meu livro. Seu título definitivo é"Um Salto no Vazio" e trata sobre um suicídio (talvez dois) e suas consequências lógicas (ou irracionais?), afetando a vida alheia (a morte alheia?). Escrevo frases à base de paradoxos, ironia atrás de ironia. Não pretendo contar histórias no sentido clássico. Mas enfiar num beco sem saída a tal da arte narrativa.

Paradoxo

As imagens que restam do inacabado "Inferno", de Henri-Georges Clouzot, são paradisíacas. Confiram:

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Funeral Blues


Faz um dia cinzento, nublado. Saramago está morto, leio na web. A nossa é uma época em que já não somos postos a pensar, afirmava. Mas eu paro e penso por um minuto (ou mais) no autor de O Ano da morte de Ricardo Reis, As Intermitências da Morte e do Memorial do Convento. Não somos postos a ler, ele poderia ter dito ainda. Contruiu uma obra tentando suplantar os contrasensos e cegueiras da vida moderna, afirmando a dignidade da língua portuguesa e do amor, posto muitos metros acima das vitórias da morte. Em terra de cegos, foi rei.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Constatação


Fui à loja da Oi para cancelar o meu Velox 3G após o período de "degustação" gratuita. Estava insatisfeito com as cobranças indevidas que tentaram me inpingir a cada mês, de serviços que supostamente eu teria solicitado à Oi. O atendente foi logo me dizendo que lá na loja eles não faziam cancelamentos, só adesões. Se eu quisesse, devia telefonar para a Oi (passei a manhã inteira tentando fazer isso, em vão).

Geralmente sou muito calmo, mas certas horas baixa um erê em mim. Creio que para ser atendido ou entendido pelas pessoas precisamos dar uma de louco. Minha insanidade é muito contida, mas inequívoca. Faço expressão de saco cheio e solto um "Não, obrigado!" que diz tudo. Acabei conseguindo o cancelamento.

Ah, as empresas que "fornecem" banda larga no Brasil! Até quando seremos acorrentados a elas, a seus preços escorchantes que passam por promocionais e a seus atendimentos no mínimo duvidosos aos clientes?

domingo, 6 de junho de 2010

Releituras

Aproveitei os poucos momentos livres do fim-de-semana para reler o único livro do escritor suíço Robert Walser lançado no Brasil, o romance O Ajudante, publicado pela Arx.

Walser é um frasista nato. Sua tiradas são concisas, brilhantes e altamente citáveis. O Ajudante é Joseph, um jovem que vai trabalhar na mansão dos Tobler.

O sr. Tobler é um inventor casado, com quatro filhos, vivendo no quadro privilegiado de uma família burguesa. Joseph é um curioso observador dessa família. Ele acompanha a desagregação material, as negligências morais (e a loucura insidiosa) dessa família. Nota o comportamento afetado e a injustiça familiar da mãe, a sra. Tobler, que trata com frieza uma criança que não lhe desperta amor, deixando-a sob os cuidados ( ou melhor dizer) sob a tortura diária de uma criada brutal.

Há um quê de autobiográfico no relato todo. Walser trabalhou como um "ajudante" em condições similares. O patriarca Tobler me faz pensar no pai do escritor, que se suicidou após ter falido. A mãe do escritor logo em seguida adoeceu (de esquizofrenia).

Como romancista, Walser notabilizou-se por não reescrever nada. O texto final era exatamente aquilo que ele escrevia à medida que as ideias iam surgindo. E que ideias!

Os outros romances de Walser, dentre eles a obra-prima Jacob Von Gunten, permanecem inéditos entre nós. Por que cargas d'água eu não sei. Dá uma vontade danada de sair e reclamar por aí.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Poesia e Loucura


O poeta italiano Dino Campana publicou apenas um livro em vida, o singularíssimo Cantos Órficos, lançado aqui no ano passado pela editora Martins Fontes, numa edição bilíngue, acrescida de outros poemas e por fragmentos esparsos.

O poeta foi - desde os quinze anos - acometido pela loucura que o acompanharia até sua morte em 1932. Viajou por todos os cantos da Europa e esteve internado em muitos hospitais psiquiátricos.

Sua poesia é musical, simbolista, evocativa, fragmentada, com fortes laivos místicos. Mas dizer isso não a esclarece. É enigmática, porque oferece doces e frescas lembranças (para nós obscuras) e vasculha até o fundo da memória - para resgatar a beleza dos instantes, fugidios como os dias. Há belas passagens que me fazem pensar no Impressionismo e em Proust. E há alucinações inesperadas como aquelas de Walser, autor admirável como Campana, que também permaneceu internado em um hospital psiquiátrico até o fim dos seus dias.