quarta-feira, 28 de setembro de 2011

The Sound of Silence

Enquanto as várias tribos de roqueiros e de popeiros enchem os penicos de seus ouvidos com as atrações dignas de churrascaria presentes a esse mega-brega evento, o Axé In Rio, eu fico tranquilão em casa, tirando a poeira dos meus velhos cds.

O resto é silêncio, como dizia aquele famigerado príncipe da Dinamarca, onde havia qualquer coisa de podre. A Dinamarca era uma espécie de Brasília para Shakespeare.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Michael Jackson de Assis



E não é que a Caixa conseguiu o milagre de branquear o "Bruxo"? Não entendi nada: o homem sofria de epilepsia ou de vitiligo?

Choques culturais

Eu era um cinéfilo como outro qualquer, até o dia em que, passeando alegre e inocente pelo YouTube, esbarrei com um trailer de um filme de Jodorowsky.

O filme era a A Montanha Sagrada. Fiquei tão abismado por aquelas imagens bizarras, sinistras, simbólicas, surreais, que corri e comprei o DVD. Depois eu vi El Topo. Por último, Santa Sangre. E a minha vida de cinéfilo nunca mais foi a mesma.

Para vocês sentirem o drama, um fragmento de Fando Y Lis (1970):

domingo, 18 de setembro de 2011

Schadenfreude

Schadenfreude é uma palavra alemã que dá nome ao sentimento de prazer diante da desgraça alheia. Não há uma só palavra em português para traduzi-la, mas o sentimento é um velho conhecido.

Um miúdo exemplo. Na semana passada, na escola pública onde trabalho, a vice-diretora me contou em plena sala de aula que um garoto, na quadra esportiva, apanhou um pedaço de pau e com ele atingiu a cabeça de uma garota, que foi levada, toda suja de sangue, às pressas para o hospital.

A reação de muitos outros alunos? Riam deliciados. Como se o sofrimento e o sangue alheios fossem as coisas mais divertidas do mundo.

Schadenfreude, portanto. Sentimento cruel, tão conhecido que chega a ser corriqueiro e banal, como a própria vida humana, nos corredores das escolas públicas maranhenses.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Seco e Áspero Lirismo


Outro filme, e brasileiro: Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo (2009). Esse sim, magnífico. Um milagre. Eu não sabia quase nada sobre o filme, só tinha lido aqui ou ali comentários elogiosos. Vi no Canal Brasil e fiquei perplexo. De queixo caído. Os dois cineastas que assinam Viajo... são os responsáveis por alguns dos melhores e mais interessantes filmes brasileiros recentes: O Céu de Suely e Madame Satã (de Karim Ainouz) e Cinema, Aspirinas e Urubus (de Marcelo Gomes).

O filme mexe com algo indizivelmente nordestino. Mostra-nos pessoas e locais típicos de uma região desolada e desoladora, como que esquecida por Deus e pelos homens, mas de forma sutil, apenas sugerindo coisas, colando imagens e depoimentos que se não me engano são sobras de um outro filme. O resultado final se revela um experimento genuíno. O filme tem um formato que lembra uma espécie de... blog, de diário. O efeito que provoca em quem o vê é assombroso.

A trama é só um fiapo. José Renato é um geólogo que faz uma longa viagem a trabalho, pela região árida do sertão, e é comovente ver como a sua narrativa, a princípio fria, profissional, vai degringolando, virando uma confissão em tom de dor-de-cotovelo (ao som das músicas bregas que tocam no rádio). Sua angústia vai se derramando gota a gota, melancólica e rarefeita como um chuvisco. E o filme se dá todo assim, de uma forma leve, delicadamente afetiva e aflitiva. Sentimos que é o nosso próprio olhar sentimental que permeia todas aquelas imagens demoradas, quase de sonho.

Mal dá para acreditar num filme desses. Um road movie pelos confins do mundo. O sertão é ríspida ou lindamente captado por imagens digitais, ou em Super 8, ou através de fotos, todas fortemente poéticas. O protagonista? Sequer o vemos. Apenas ouvimos aqui e ali os seus comentários em off. Ele levou um pé na bunda e não para de pensar e falar sobre sua ex. Os dias que faltam para sua viagem terminar se arrastam. A própria duração de cada imagem mostrada tem um ritmo mais lento. É um tipo de cinema que partilha aquele mesmo olhar lírico, capaz de desnudar paisagens intimistas, mostrado em India Song (1975), o agridoce e mítico filme de Marguerite Duras.

Assistam. Viajo... é um filme raro, único. Dá uma vontade comovida de aplaudir quando termina. Ser brasileiro tantas vezes nos enche de ceticismo, tal a canalhice dos políticos, a omissão da justiça, a exclusão do povo. Aí vem um filme surpreendente desses, que faz a gente olhar para um Brasil primitivo, esquecido, totalmente à margem, e ainda por cima nos emociona. É simplesmente mágico.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Tirando o atraso


Finalmente me dei ao trabalho de assistir ao famigerado Tropa de Elite (2007), de José Padilha. Foi bom poder analisar o filme só agora, quando já baixou a poeira. O hype criado em torno chegou nas estratosferas, dado o sucesso popular do filme. Vamos relembrar a recepção crítica da época. Muita gente boa criticou. Muitos aplaudiram de pé. Houve quem dissesse que era um filme fascista. Houve quem negasse de pé junto. O filme ganhou fama e prêmios, foi extremamente pirateado (e já que o dvd pirata financia o tráfico em nosso país, a pirataria de um filme antitráfico é uma grande contradição tipicamente brasileira) e já ganhou continuação.

O filme é narrado em off pelo Capitão Nascimento (Wagner Moura). Antes não fosse. A narração em off toma partido e justifica ações duvidosíssimas. Se a intenção era fazer um retrato realista da vida de um policial do BOPE, deviam focalizar as coisas mais objetivamente, deixar as imagens falarem por si mesmas. O filme é subjetivo e parcial. É um filme fascista. Repleto de ideias fascistas. Defende práticas policiais como a tortura e o assassinato. Decide fazer uma faxina moral e social através das armas. Tem horror ao discurso dos intelectuais e dos universitários. É antipacifista. É belicista, militarista. Trata-se de uma obra incômoda, uma verdadeira batata quente, como "O Triunfo da Vontade", de Leni Riefenstahl (que está muito longe de ser um dos meus filmes favoritos).

Conheci um sujeito na universidade que se dizia fascista. Figurinha que defendia a "purificação", a limpeza da sociedade. Num país paradoxal como o Brasil, e miscigenado, difícil é definir o que seria essa tal pureza. Tropa de Elite mostra uma polícia que existe para proteger... a própria polícia. De quem? Do sistema corrupto. Essa é toda a pureza que prega o filme, com um tom retórico, de quem discursa e julga, sabendo quais são os males do Brasil e como resolvê-los. Na base do cacete e do pau puro. Com estratégia de guerra. Alguém se lembra de outros filmes fascistas como Rambo e Perseguidor Implacável? Não eram sobre outra coisa.

Há fãs que vertem tratados pseudos para dizer que o filme não é fascista porque não se encaixa esteticamente nos moldes originais da coisa. Quá. Quá. Quá. Querem que Tropa de Elite seja Futurista? Mostre-me qualquer grupo que mereça ser eliminado, massacrado por uma "elite" e já estamos no território de Mussolini, Hitler, George W. Bush...

O fascismo já vem embutido no próprio título do filme.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Tabletes

Os chamados tablets dificilmente emplacarão no Brasilzão de meu Deus, ainda que os preços barateiem, por um simples e prosaico motivo: livro, digital ou de papel, é um troço que não faz parte das necessidades básicas do brasileiro.

Quer dizer, o povo consumista pode até comprar o tal iPad. Mas vai usar para quê? Pra bater fotos e postá-las no Facebook, claro. Francamente, acho mais divertido jogar biriba. Quem nunca teve um cérebro agora tem milhares de cérebros eletrônicos em rede, todos empregando o mesmo tatibitati infantil como vocabulário: "blz, vlw, bj, rsrs"...

domingo, 11 de setembro de 2011

Releituras


Quando se fala em George Orwell, sempre são citados os sombrios universos de 1984 ou de A Revolução dos Bichos. Mas, para mim, as obras-primas do autor são bem outras: "Na Pior em Paris e Londres" (1933) e a coleção de ensaios "Dentro da Baleia" (1940), neles não há nada sequer parecido com as alegorias políticas que fizeram a fama de Orwell. São livros de relatos agudos, precisos, dotados de uma veracidade nua e uma objetividade descritiva insuperáveis.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

A mortalha do peixe

O jornalismo praticado no Maranhão tem, pelo menos, essa utilidade: serve para ensinar como não se deve escrever.

sábado, 3 de setembro de 2011

Coleção



A Coleção Folha Cine Europeu, traz DVDs que acompanham a edição dominical da Folha de São Paulo, e é uma oportunidade única para adquirir alguns títulos imperdíveis, já esgotados nas lojas. Um exemplo é o magnífico "Deserto Vermelho", de Antonioni, que estará à venda no dia 16 de outubro. Mas há muito mais: filmes importantes de Herzog, Truffaut, Godard, Fellini, Chabrol, Malle, Hitchcock e outros diretores renomados.