terça-feira, 27 de julho de 2010

Covers

Versão classuda dos Scissor Sisters para um clássico do Roxy Music. Os Sisters, de disco novo na praça, estão muito divertidos.

3D não vale o ingresso


Preciso confessar: ver filmes em 3D para mim é um baita programa de índio, com cocar de penas e tudo. Não pelo formato em si. É uma experiência até curiosa ver todos aqueles troços voando na direção da gente ( fico imaginando como deva ser um filme pornô em 3D). Mas é coisa para criançada, não para cinéfilos consumados, pois guris devem achar o 3D uma cruza perfeita entre o game, a pipoca e o cinema.

Mas eu não sou guri desde os anos 70, e aqueles óculos pesados, incômodos, nunca mais. Da última vez que os usei, senti o meu nariz inchar como se tivesse levado um soco e vi estrelinhas roxas rodopiarem acima de minha cabeça e cheguei a erguer as mãos para tentar tocá-las, pensando que eram um efeito do 3D. Era a dor. As cores dos filmes também sofrem: ficam desbotadas, empasteladas, monocórdias. O tal sistema 3D ainda tem muito o que melhorar, isso sim.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Sem Máscaras


Acabei de ler O Náufrago, do Thomas Bernhard, e emendei com a leitura de Perturbação. O negativismo e a ironia depreciativa contra tudo e todos são as marcas de Bernhard, assim como de Beckett, Miller e Céline, autores que tratam da doença, da agonia e da morte da sociedade contemporânea, que apontam o definhamento e o apodrecimento de todos os valores da nossa civilização. São os artistas do desmascaramento. Felizmente partilham um humor amargo e venenoso, que transformam suas obras em comédias sombrias e nos permitem alívio cômico. Com eles aprendemos a rir de nossos próprios demônios.

sexta-feira, 16 de julho de 2010



Um escritor de primeira grandeza que tem norteado a maior parte das minhas preferências (ou aversões) literárias, ultimamente, é Samuel Beckett. Admiro o lado dramaturgo (pelo qual ele é mais reconhecido), mas amo principalmente os romances que compõem a trilogia Molloy, Malone Morre e O Inominável.

Não escrevo isso aqui para rasgar seda como fez (o recentemente falecido) Harold Pinter, que uma vez taxou de "linda" a obra de Beckett. Nem levo muito a sério o que escreve como crítico Ferreira Gullar, que considera a obra de Beckett uma chatice só. Tem muita gente boa e culta que acha Gullar um chato. Eu admiro tanto Beckett romancista quanto Gullar poeta, vai ver porque sou muito chato também. O que pretendo, creio, é fazer um justo reconhecimento:

O Inominável supera tudo que eu estava lendo antes e tudo que vim a ler depois. É duro. Uma pedrada. Um desafio. Uma obra-prima. E como tal, uma monstruosidade.

Dá para sentir a influência de Beckett em escritores brasileiros contemporâneos, como Bernardo Carvalho, por exemplo. Seu romance Teatro é puro Molloy. Com seus dois personagens que no fim das contas são um só.

O tão falado "desespero existencialista" que muita gente insiste em enxergar em Beckett é coisa de quem não percebe o sinistro humor de seus escritos. Isso de que a obra dele é vazia e fica falando e falando sobre o "nada" é um lugar-comum de leitores vazios, que não têm nada a comentar. Eu diria que o negativo da obra de Kafka faz eco na obra de Beckett, que recorre a uma poesia áspera (e o naturalismo de Joyce foi capital para desenvolver esse jeito rude de escrever, com uma diferença: Beckett não recorre às epifanias verbais de Joyce). Ele foi brilhante em sua monografia sobre Marcel proust, ao ver na Busca do Tempo Perdido os limites da arte ficcional. Há um emaranhado entre Proust, Kafka e Joyce, nas obras de Beckett. Suas personagens estão num limbo temporal, como os personagens de Kafka, e lembram para a frente como o narrador proustiano.

Ninguém, nem mesmo os imitadores que povoam o inferno dos bem-intencionados, superam o exercício de prosa poética de Beckett, no limite entre silêncio e palavra, em seu pleno reconhecimento do descrédito da linguagem. Beckett é um poeta que lendo Proust, Kafka e Joyce, fez um emparelhamento destes em suas próprias obras, soando totalmente original. Para se distanciar do estilo de Joyce, por exemplo, ele passaria a escrever em francês.

Mas Beckett não é figurinha fácil. Modernista por excelência, criou um caminho absolutamente único na literatura pelo qual não dá para seguir adiante sem se perder na ilegibilidade.

P.S.: Temos, no Brasil, um escritor também genial que ombreia com ele, ao se enveredar por uma via pessoal, solipsista, negativa e ambígua pelo âmbito da linguagem, e é Clarice Lispector.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Apontamentos para um ensaio futuro


Um ensaio não muito longo, espero, sobre o eterno adolescente, idéia que me parece cabível como reflexão sobre as mentalidades da nossa predominante cultura de entretenimento:


- Rever os filmes “Little Children”, com Kate Winslet e Juventude Transviada, com James Dean.


- Reler Rimbaud (há uma biografia recente, de Edmund White, que já encomendei) e também Radiguet, procurar um ensaio de Camile Paglia (sobre a sem-gracice dos efebos, mas ao mesmo tempo seu reconhecimento de que a adolescência é o único momento em que o homem se vê livre da autoridade feminina representada pelas figuras da mãe e da esposa);


- Contrapor isso a Machado de Assis (em Memórias Póstumas de Brás Cubas, o narrador já se sente homem feito quando lhe nascem os primeiros tufos de bigode: no séc. XIX o homem emergia da infância diretamente para a chamada vida adulta, pois naquela sociedade patriarcal o desejado era se tornar logo um homem adulto, um senhor de posses e de escravos. A hoje tão superestimada adolescência e o desejo de ser o eterno adolescente sequer existiam) o que me leva a perguntar: esse fascínio todo pelo “adolescente” é um fenômeno recente, do final do século XX e na totalidade deste séc. XXI?


- E o Romantismo (Goethe, Werther, Tristão e Isolda)?


- E Shakespeare (Romeu e Julieta)?


- O conceito de "fim da infância". Reler o poema homônimo de Montale.


- Carlos Drummond de Andrade em "O Observador no Escritório" dizia que em nossos dias não havia mais crianças porque a televisão conferia maturidade a todas;


- Reler o conto fantástico "Teleco, o Coelhinho", de Murilo Rubião, como uma alegoria da caótica (e breve) liberdade da juventude.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Um Gênio Sombrio e Iluminado


Livrinho fascinante é este O Mundo Prodigioso que Tenho Na Cabeça, um ensaio biográfico de Franz Kafka, escrito pelo americano Louis Begley. A frase que deu título ao precioso ensaio é do próprio Kafka.

O livro reúne informações importantes sobre o autor e a cidade de Praga, seu círculo íntimo, suas relações com a família e no ambiente de trabalho, mas vai muito além: tenta traçar um perfil psicológico de Kafka, baseado em seus escritos íntimos, diários e cartas, e também na opinião daqueles que o conheceram, mais ou menos como se Begley tentasse sondar o que ia pela cabeça de um dos mais geniais escritores de todos os tempos, uma tarefa no mínimo ambígua, em se tratando de um escritor que cunhava aforismos como "psicologia nunca mais" e que desdenhava de Freud, considerando-o um mero compilador das "ansiedades judaicas".

Mas esta ousada proposta de Louis Begley não apela ao jargão psicanalítico, nem resvala para uma caricatura do autor de "A Metamorfose": trata-se um ensaio acurado, brilhantemente escrito, que ilumina ainda mais o gênio e o espírito criativo de Kafka (um autor que dizia escrever para retratar suas paisagens oníricas e que, abominando família e emprego, desejava devotar-se exclusivamente à sua vocação literária). Neste ensaio, Kafka transparece, página após página, graças à transcrição de suas próprias e agudas palavras, ilustrando os fatos de sua vida. Um livro no mínimo indispensável.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

5 Livros Que Me Fizeram Dormir


Os livros a seguir têm uma peculiaridade em comum: caíram das minhas mãos e fatalmente me fizeram dormir durante a sua leitura. Mas isso não quer dizer que eu não tentarei lê-los novamente, devo recorrer aos ditos cujos numa dessas noites de insônia:

01. Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Marquez (esse provou-se muito eficaz, mal comecei a ler a saga dos Buendias e fui afundando gradativamente entre os lençóis e ressonando com cada vez mais vigor. Cem Anos é um verdadeiro Lexotan literário). Cotação: quatro roncos sonoros.

02. O Arco-Íris da Gravidade, de Thomas Pynchon (os olhos foram fechando aos poucos, ficando mais pesados, então mergulhei num sono difícil de ser perturbado). Cotação: duas roncadelas e uma babadinha no travesseiro.

03. Os Buddenbrook, de Thomas Mann (o livro de estreia deste grande autor me fez dormir bonito). Cotação: dois bocejos

04. O Código da Vinci (um primeiro capítulo terrível, que me nocauteou sem piedade). Cotação: Um estado de coma profundo

05. O Jogo da Amarelinha, de Julio Cortázar (é um ultraje dizer isso de um dos livros mais elogiados do século XX, de um autor que admiro tanto - especialmente os contos - mas, o fato é, que deu sono. Cabeceei de um lado pro outro, cambaleei miseravelmente, até que caí sem salvação nos braços de Morfeu) Cotação: uma canção de ninar.