quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Por que não vou quase nunca aos cinemas?

Cinema autoral, formal, reflexivo, questionador, que mostre o cotidiano de gente crível, de carne e osso, hoje é considerado out, principalmente neste momento de crise econômica nos EUA, em que um filme é planejado para arrecadar lucro farto e fácil junto a adolescentes sem noção. Qualquer nerd que tenha um blog hoje passa por crítico sério, ainda que no fundo aprecie apenas aquele blockbuster hollywoodiano lotado de efeitos especiais e explosões, de preferência com algum super-herói dos quadrinhos ou alienígenas. Esta é a era de ouro do cinema como escapismo puro, de filmes descartáveis feitos para vender coca-cola e baldes de pipocas, brinquedos e todo tipo de badulaque licenciado que os nerds adoram colecionar.

Godard é out, Kurosawa é out, Malick é out, Wenders é out, Herzog é out, Lars von Trier é o mais out de todos.

Spielberg e George Lucas (padrinhos dos chatos, tolos, imediatamente esquecíveis blockbusters) são hoje cultuados. "Super 8", filme nostalgia do Spielberg safra 80, está em cartaz nos cinemas mais próximos, comprovando o que digo. Assim como os Harry Potter, os Transformers, os Capitães América, etc.

O próprio cinema é o que há de mais out. O grande lance hoje é o tal 3D, que para mim já deu o que tinha que dar. Diante de tanta tranqueira que passa por sétima arte, dá vontade de dizer na bilheteria a famosa frase que o povo bradava antigamente, quando saía mais cedo de uma exibição ruim: "quero meu dinheiro de volta!"

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Vazio

Nada dá uma sensação de vazio maior que concluir a escrita de um livro. Terminar uma transa, te enche da famigerada tristeza pós-coito, e um funeral pode te render sensações variadas como choque, dor, alívio ou alegria. Um livro não, quando finalmente concluído, só deixa atrás de si um silêncio imenso.

A única forma de preencher esse silêncio é começar um novo livro. Imediatamente.

sábado, 13 de agosto de 2011

A armadilha do desejo


A Lume, de Frederico Machado, acaba de lançar no mercado nacional de dvds o sublime filme O Direito do Mais Forte (1975), do cineasta alemão Rainer Werner Fassbinder.

Talvez seja o filme de Fassbinder com o final mais melodramático, poderoso e cruel, dentre todos os seus mais de 40 filmes.

Um clássico do cinema homoerótico, em que o desejo se torna uma armadilha fatal, especialmente para aqueles pobres coitados às margens da sociedade que caem na esparrela de se apaixonar por animais de alta estirpe burguesa.

Franz, o personagem principal (interpretado pelo próprio Fassbinder) é um tipo bruto e marginal, cujo namorado é preso logo no começo do filme. Ele ganha uma fortuna na loteria. Com isso, várias aves de rapina se aproximam de Franz, visando ocupar os papeis (vagos) de amigo e amante em sua "nova" vida. O filme é muito incisivo, uma espécie de denúncia camp, e não marxista, da luta de classes, mostrando que fora do seu contexto um indivíduo de classe popular é inepto para lidar com os vampiros refinados e aristocráticos da elite: Franz será a vítima perfeita em uma sociedade capitalista movida pela ganância, que seduz através de aparências enganosas e traiçoeiras.

Franz fica à mercê de seus predadores e parasitas. É assombroso acompanhar sua queda vertiginosa. O Direito do Mais Forte é um retrato perverso (como o proustiano) e complexamente niilista do universo gay. Um filme doloroso e inesquecível.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

sound and vision

Quem assiste ao áspero filme Fish Tank (2009), de Andrea Arnold, não consegue mais ficar imune a esta música:



Tampouco consegue escapar impune ao olhar predatório de Michael Fassbender:


Parada de Insucessos

Lula teve sucesso ao eleger sua sucessora. Mas o governo atual é, para muita gente, uma sucessão de desastres. A política da tolerância à corrupção, apoiada pelo Congresso, é a única considerada benéfica à saúde política presidencial. Sucesso faria Dilma entre essa bandalha se prometesse dar um cala-boca na imprensa.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Uma animação realmente animadora


Sita Sings The Blues (2009) é uma animação tão absolutamente original, com sua temática indiana (o filme é um musical baseado no livro do Ramayana) que não se parece com nada feito antes.

Um dos grandes prazeres do filme é acompanhar os três narradores da história, que falam com forte sotaque indiano.

Mas ainda há muito mais. Existe uma variadade muito criativa de técnicas de animação empregadas no filme.

O filme é simplesmente imperdível. Confiram a primeira parte: