domingo, 31 de julho de 2011

O Cinema dos Meus Olhos


Assisto a um filme magnífico de Orson Welles: Mr. Arkadin. Que também é conhecido como Grilhões do Passado. A dica para procurar este divertidíssimo filme veio de um livro de André Bazin sobre Orson, que adquiri na última Feira do Livro.

Vidente, o crítico dos Cahiers du Cinéma, morto em 1958, avisava que no futuro, quando os amantes do cinema pudessem colecionar os seus filmes preferidos em casa, classificariam este filme de 1955 como um de seus maiores tesouros.

No entanto a qualidade do DVD (da péssima Continental) é pior do que sofrível. Tem horas que a imagem engata e não avança mais. Há uma edição americana mais caprichada, suponho, pela Criterion Collection. Mr. Arkadin também está disponível (sem legendas) no YouTube.

É um filme para ver e rever. Uma investigação detetivesca (feita por dois interesseiros golpistas) que remexem no passado nebuloso de um misterioso milionário, o sr. Arkadin, interpretado por Welles. Lembra muito a busca contraditória e frenética do significado da palavra Rosebud em Cidadão Kane. Há de tudo um pouco: insinuações de incesto entre pai e filha, homossexualismo, prostituição, o diabo a quatro, o que deve ter deixado Hollywood de cabelos em pé na época.

Welles é único.

sábado, 23 de julho de 2011

Adeus

Amy Winehouse (1983-2011)

Calou-se para sempre a maior voz - a mais fora dos eixos - desta geração. Seus dois discos ficarão para sempre, pois são verdadeiras obras-primas fulgurando sozinhos em uma época burra e chata, que entrará para a história como um período de badalação persecutória a celebridades vazias e sem talento nenhum. Amy foi o oposto disso e riscou os céus radiante como uma estrela cadente. R.I.P.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Escadas safadas


Vou ao Banco do Brasil, na Deodoro, fazer um pagamento qualquer sem ser por meios eletrônicos, e... que surpresa, o boca do caixa, cujo atendimento é feito por gente de carne e osso que nem eu e você, leitor, fica ali no subsolo, escondidinho como uma marmota. O acesso para lá é feito através de íngremes escadas. Pois bem, desci as ditas cujas.

Mas na minha frente havia duas senhoras bem idosas, e as coitadas apresentavam sérias dificuldades para descerem as benditas escadas. Imagina subirem aquilo tudo de volta. Era a pedida para um ataque cardíaco. O segurança, solícito, ajudou as velhinhas a descerem. O que me levou a pensar: "Segurança de banco serve ao menos para segurar as velhinhas na escada, evitando que elas caiam". Fiquei pasmo que não houvesse elevadores ali no Banco. E os cadeirantes, então, como ficam? Têm que ser segurados com cadeira e tudo pelo segurança? Onde estavam as rampas de acesso especial?

Perguntei à moça que me atendeu no caixa o que achava dessa situação, e ela detonou a própria agência e seus (ir)responsáveis: "O acesso aqui é totalmente irregular, mas enquanto um não se acidentar ou morrer ninguém faz nada pra mudar..."

Pois é. Um banco desses só podia levar o nome do nosso país.

Os festivais e os nazistas


O grande bate-boca que deu colorido à Flip deste ano girou em torno do escritor e cineasta Claude Lanzmann, cuja decisão de se recusar a debater um determinado assunto foi comparado pelo seu mediador com a tática "nazista". Mas essa polêmica definição parece gêmea daquela que envolveu o intelectual e cineasta Lars Von Trier, que num súbito acesso de humor negro se disse "nazista" em pleno Festival de Cannes deste ano, tendo sido por isso convidado a se retirar do evento.

Indiferente a todos esses barracos em que a horrenda questão nazista nada tem a ver com o pato, estou assistindo ao impressionante documentário Shoah, de Lanzmann, via YouTube, sobre o holocausto e suas vítimas, baseado em entrevistas com os sobreviventes do genocídio e seus familiares, filmado em locações nas fantasmagóricas ruínas dos campos de concentração nazistas e nas florestas em que os corpos eram enterrados. Shoah é um filme longo, com 9h de duração, mas o tema e a abordagem são tão precisos e senhores de si que não se consegue deixar de prestar atenção, cheia de assombro, a nenhum dos depoimentos.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Eu, Zac Efron e Orson Welles


"Eu e Orson Welles" (2008), de Richard Linklater, é um filme delicioso, brilhantemente interpretado por seu elenco, especialmente por Christian McKay, no papel soberbo de Orson: gênio, ator, diretor, persona carismática, intelectual, prestigitador, diretor renomado, enfant terrible das artes, falsário, lenda do cinema, homem sedutor, temperamental, grandioso, cujo primeiro filme, Cidadão Kane, é considerado, quase por unanimidade, o maior filme de todos os tempos, pedra de roseta do Modernismo na chamada sétima arte.

O filme já seria brilhante se apenas se dedicasse à figura de Orson Welles, mas vai muito além ao recriar os ensaios e a encenação de sua primeira produção teatral, uma montagem de Julio César, de Shakespeare. Como aponta o crítico Roger Ebert, talvez nenhum outro filme trate com tanta atenção e paixão o teatro. O filme mostra tudo que acontece no palco e nos bastidores: as intrigas, os chiliques, as fofocas, os choques de egos, as seduções, os incidentes, as superstições, o nervosismo da estreia, as brigas, as discussões, etc.

Nunca pensei que um filme com Zac Efron pudesse conter tamanha alegria. O diretor, Richard Linklater, faz um filme atípico e absolutamente encantador. Os diálogos irônicos e inteligentes são um dos seus pontos fortes. Já a performance de Mckay, encarnando Orson Welles, é diabólica.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

A César o que não é de César

Num momento em que até a presidente Dilma reconhece oficialmente a importância de FHC e do plano Real para a atual economia brasileira, (a despeito de Lula, que demonizava FHC, mas se valeu de seus triunfos), quem resolveu sair da confortável zona de sombra do Senado Federal para chamar os gloriosos holofotes sobre si mesmo? Surpresa: foi o velho Sarna.

José Sarney emergiu hoje, todo pimpão, em sua coluna da Folha, entoando uma enjoativa ode aos 25 anos do seu Plano Cruzado. O Cruzado, para quem não lembra, foi um catastrófico pacotão econômico que não só fracassou em suas pretensões de congelar os preços, como atirou o país numa hiperinflação e num atraso medonhos que afastaram investidores estrangeiros por quase uma década. Na época, todos os cidadãos que se diziam "fiscais do Sarney", arrependeram-se de bancarem os palhaços do verdadeiro circo que era (e é) a nossa política.

Valendo-se da falta de memória nacional, Sarney torce a história em seu favor, posando agora de estadista triunfante, cujo Plano Furado, "foi a primeira grande distribuição de renda do Brasil", e que teria supostamente ajudado a solidificar a nossa economia e aberto o caminho para o Plano Real. Pelo que se vê, agora que a própria Dilma reconhece os inegáveis méritos do Plano Real, todos os presidentes, antes e depois de FHC, aproveitam para lamber a casquinha de seus méritos. E aqueles mesmos planos atabalhoados que ajudaram a destruir a renda dos brasileiros são citados agora como projetos vitoriosos.

A história é escrita pelos vencedores. Sarney, que pilota atualmente o Senado, hoje o homem mais poderoso do país, pode e deve ser visto como um tremendo vencedor. No entanto, os quase 50 anos de miséria e atraso em seu próprio estado de origem nada revelam além de uma gigantesca derrota do povo do Maranhão e, em escala maior, do Brasil.