sábado, 14 de abril de 2012

Tempo, tempo, tempo: mano velho


O tempo passa correndo e nada comprova mais a desabalada pressa da vida moderna do que percebermos nitidamente as nossas mudanças de comportamento através de todos esses anos.
Quando se passa, por exemplo, a iniciar frases com expressões como “Antigamente” ou “No meu tempo”, é fatal. Já estamos velhíssimos. Antigamente, no meu tempo, eu jamais começava uma frase assim...
Envelhecer é um processo natural, mas também me parece natural tomar um leve susto diante das principiantes rugas e dos fios brancos precoces na cabeleira (quando ainda se possui uma).
Há quem tente remediar o estrago, recorrendo a plásticas ou a tinturas, mas, convenhamos, tais medidas devem ser confiadas apenas às mãos de profissionais competentes, caso contrário algumas dessas operações ou tratamentos acabarão obtendo resultados pouco satisfatórios, para não dizer desastrosos.
É muito lisonjeiro dizer que uma pessoa parece mais jovem do que de fato é, pois a maioria aparenta mais idade do que possui. Vejam aquele filme que mostra a vida da cantora Edith Piaf. Eu sei que ela sofreu horrores, mas quem nessa vida não sofre, padece. O tempo dá suas bordoadas em todos.
E aquela pergunta da madrasta da Branca de Neve ao seu espelho mágico: “Tem alguém mais linda do que eu?” é, obviamente, a pergunta que qualquer pessoa narcisista (e todo mundo é nem que seja um pouquinho) jamais deveria fazer. Pois, não importa quão belo, jovem e atraente você é ou foi: sempre haverá alguém mais belo, jovem e atraente do que você nesse mundo.
Envelhecer é uma cruz maior para as mulheres. Pois, ainda que um homem seja considerado inequivocamente velho, caso possua dinheiro terá o mundo inteiro jogado a seus pés. Com as mulheres o caso é diferente, a vaidade pesa bem mais, e mesmo as multimilionárias, não tenham dúvidas, dilapidariam suas enormes fortunas para terem de volta o irrecuperável viço dos seus vinte anos, ou até mesmo de uns meses atrás.
As mulheres agem assim porque pensam que serão implacavelmente condenadas se não continuarem atraentes. E os juízes mais cruéis delas nem são os membros do sexo oposto, mas as suas rivais, que se aperfeiçoam cada vez mais na arte de enganar o tempo. Isso porque tanto no jogo do amor quanto no concorrido mercado do sexo são supervalorizados os atributos físicos invejáveis da juventude, embora, na maioria das vezes, poder, dinheiro, inteligência e charme pessoais pesem mais na balança para a escolha de um(a) parceiro(a).
Somente aqueles que, definitivamente, se consideram fora do páreo se dão ao luxo perigosíssimo de descuidar da aparência. É o caso de tanta gente casada, comprometida ou enroscada que eu conheço. Mas há sempre riscos nessa atitude:
"Bola? Eu chuto!" – disse uma vez o meu irmão, com aquela sinceridade irônica típica dos adolescentes, à namorada, só porque a moça acabou engordando umas gramas nas férias. Aqueles que nunca foram chutados apesar de roliços devem ser as pessoas mais felizes do planeta.
Aceitar a passagem do tempo não é para todos. Como aceitar a ideia do envelhecimento, das doenças e da morte se essa é uma pílula amarga demais de se engolir? Hoje em dia, fala-se muito em buscar uma maior qualidade de vida, e as pessoas parecem ter duas opções: envelhecer bem ou envelhecer bem mal.
Exercitar-se, ocupar o corpo e a alma, comer comida saudável, evitar o álcool e o cigarro, etc. Somos bombardeados diariamente pelas dicas de como viver melhor da televisão, das revistas, da Internet, e até mesmo em nossas rodas de amigos (que é melhor não exagerarem muito nos conselhos saudáveis para não correrem o risco de perderem os amigos).
Mas o fato é que se pode chegar, sim, a uma velhice mais saudável e mais sábia. Antigamente (lá vou eu...) as pessoas sabiam envelhecer com uma aura digna. Eram chamadas (quando mais conservadas que as outras) de coroas enxutos (risos). Nada contra tingir os cabelos para não se parecer com a bisavó dos outros, mas há quem troque os pés pelas mãos. Hoje se veem muitas mães idênticas às filhas, querendo falar e se vestir como se fossem mais uma coleguinha da turma e não mães. E tem muitos homens incapazes de lidar com a própria maturidade, que ficam morando com os pais até aos quarenta, ou mais, completamente dependentes. Essas e esses querem permanecer como menores de idade eternos. São um sintoma de nossos tempos, de uma cultura infantilizada que vende a ideia furada de que seremos jovens para sempre.
Tanta ênfase e foco na juventude faz com que o idoso e tudo o que ele representa sejam menosprezados. É um fato muito sério, e num país em que a idade média da população só vêm aumentando, chega a ser escandaloso. Os jovens que desdenham ou até maltratam os mais velhos parecem ignorar o fato de que um dia também envelhecerão, adoecerão e morrerão. Adquirir essa consciência já implica em maturidade, e como sabemos hoje a garotada foge da maturidade como o diabo foge da cruz.
 Tais jovens e muitos adultos metidos a garotões encaram a velhice dos outros como se fosse uma comédia ou uma tragédia pessoal. Não o processo natural de quem veio tocando o barco ao longo de muito tempo. Como a medicina e a tão propalada adoção de hábitos saudáveis ajudam a prolongar bastante o tempo de vida das pessoas, o ideal era que os extremos etários da nossa sociedade aprendessem a conviver mais e melhor com as suas diferenças. Que todos trocassem experiências e conhecimentos entre si: jovens e idosos.
Afinal, seria muito útil uma campanha na tevê que conscientizasse as pessoas de que todos nós começamos a envelhecer e a morrer desde o momento em que somos concebidos.

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