sábado, 22 de janeiro de 2011

No meio do caminho


A sensação que tenho com este blog é que eu estou sempre importunando a indiferença das pessoas ao falar de livros, filmes ou discos que as pessoas não tem a mínima vontade de ler, de ver ou de ouvir. Aliás, são justamente estes livros, filmes ou discos que ninguém mais quer ler, ver ou ouvir que criam entre mim e os outros uma espécie de barreira, de obstáculo intransponível como a pedra no meio do caminho do Drummond, isso foi o que me explicou um amigo meu, que também estudou comunicação. Eu estabeleço padrões altos demais, segundo ele.

A total indiferença a obras de arte dessas pessoas, que no fundo não querem pensar em nada fora delas e estão apenas ocupadas consigo mesmas, é o que me diferencia delas e nos torna completos estranhos, creio que seja isso que meu amigo quis me alertar. É o que nos afasta, o que nos repele. Certamente, é fastidioso para mim ter que conviver com pessoas que são absolutamente indiferentes a tudo aquilo que me parece interessante e que mais aguça a minha curiosidade e intelecto, pois certamente tais pessoas abriram mão de qualquer esforço mental e cultivam exclusivamente a própria ignorância e a própria vulgaridade, e da mesma forma, deve ser absolutamente angustiante para essas pessoas a minha presença, já que não compartilho o mesmo entusiasmo que elas demonstram por coisas banais como fazer compras, espalhar mexericos ou ver TV.

Mas é justamente nesse ponto que reafirmo minha necessidade de manter o fosso que me separa dessas pessoas, e de toda sua burrice e futilidade, afinal não desejo me aproximar daquilo que me dá apenas repulsa e prefiro manter os padrões elevados, ou seja, prefiro me isolar daqueles que me aborrecem mortalmente. E continuarei aqui a falar de livros e filmes e discos.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Palhaçada Muito Séria

Pontos de Vista de um Palhaço é um romance admirável do alemão Heinrich Böll. O protagonista é Hans, filho de família da alta burguesia, que contrariando as expectativas dos pais ricos, tornou-se palhaço profissional e foi viver - sem se casar - com a católica Marie.

O livro começa com a queda de Hans num palco, ele machuca o joelho e tem que deixar de se apresentar por um tempo. Hans vivia bebendo, em decadência artística e pessoal, após ter sido abandonado por Marie - que se casou com um católico.

O livro se passa num certo período da Alemanha do pós-guerra, dividida por conflitos ideológicos e religiosos, mas o que conta aqui são as verdades - dolorosas, risíveis e implacáveis que o palhaço emite, atirando para todos os lados, como uma verdadeira metralhadora giratória.

Hans é puro ressentimento contra os burgueses mesquinhos e, principalmente, contra os cristãos, sobretudo os católicos hipócritas que se movem ao seu redor, ou com os quais troca telefonemas enfurecidos e hilários. É um personagem eloquente, sagaz, de uma comicidade ressentida e uma ambiguidade diabólica, um personagem absolutamente passional e verdadeiro, que denuncia tudo e todos e parte em busca de seu amor perdido.

Böll (falecido em 1985), faturou o Nobel de Literatura em 1972. Dele eu já havia lido o magnífico Casa Sem Dono. Mas este, Pontos de Vista de Um Palhaço, publicado aqui pela Estação Liberdade, talvez seja sua obra-prima. Com certeza é o melhor livro que até agora li neste ano.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Canas Tron ices


O filme Tron - o Legado é uma bela de uma bomba. Não tem trama nenhuma e só faz repetir, com sofisticação de efeitos especiais, as cenas de jogos/combates do original. O primeiro Tron era um filme mais lento, e também mais ousado e inovador, e apareceu em meados dos anos 80, uma época em que ninguém nem sonhava em possuir um PC em seu quarto, imaginem falar em realidade virtual. Tron - O Legado vai num rumo inverso: já nasce ultrapassado.

A trilha sonora do Daft Punk, tão comentada, é um erro: sobrecarrega as cenas com tanto vigor e impacto, que faz com que prestemos atenção na música, e não nas imagens, a despeito de todo o charme visual do filme.

Conheço algumas pessoas que gostaram do filme. São almas caridosas.

Para mim, o único efeito especial impressionante do filme é o rejuvenescimento de Jeff Bridges.

Francês Sacana


Eu nunca havia lido nada do famigerado escritor francês Michel Houellebecq. Mas como adoro uma boa provocação, pedi um dos seus mais badalados e polêmicos livros, Plataforma.

Comecei, já pensando: tenho uma porção de coisas bem melhores para ler do que isto. Mas não. Houellebecq não faz feio. Seu livro é muito interessante. Prende a gente. É um estilo virulento. Chuta os cachorros velhos. Muita gente o considera ofensivo. Só ofende os babacas que merecem ser ofendidos.

O melhor são as digressões. Não sobra pedra sobre pedra quando ele discorre filosoficamente sobre algum tema, uma religião, uma cidade (São Paulo leva várias bordoadas) ou alguma classe de pessoas. A parte menos convincente do livro, a meu ver, é a ênfase no sexo. Nada muito constrangedor, mas é preciso ser um Phillip Roth em O Teatro de Sabbath ou uma contista como Márcia Denser para escrever sobre sexo sem lembrar uma daquelas confissões de estripolias sexuais de revistinha de sacanagem.

Mas Houellebecq passou no meu teste da farinha literário. Quero urgente ler outras coisas dele. Vicia, eu presumo.

Amy-a ou Deixe-a

Amy já está entre nós! O primeiro show da grande Despirocada da música pop é dia 8, em Florianópolis, e o povo já está pagando para ver se a cantora vai explodir ou implodir em Terra Brasilis. Amy é uma incógnita. Faz tempo que não se apresenta e os shows no Brasil vão ser um termômetro da sua volta aos palcos.

Reza a lenda que Jim Morrison também era imprevisível nos shows dos Doors: ninguém adivinhava se ele ia fazer um puta show ou protagonizar uma cena lamentável após outra, como subir trêbado ao palco, xingar todo mundo, masturbar-se, etc.

Nada mais seguramente divertido que os dois discos de Amy: Frank e Back To Black. O produtor da moça, Mick Ronson, promete bolacha nova ainda este ano. Amy pode ser uma porra-louca e esconder mil bagulhos sob o cabelão, mas poucos questionam sua genialidade musical (deliciosamente retrô).

Ela é a maior cantora da atualidade, a que faz todo mundo se perguntar quem são as outras.

Dia 13 ela vai se apresentar em Recife. Um amigo está me convidando, insistentemente. É tentador. Veremos...