quarta-feira, 27 de abril de 2011

Imortalidade

Finalmente! Saiu o primeiro trailer de "Immortals", novo filme do magnífico diretor indiano Tarsem Singh (Dublê de Anjo), com lançamento marcado para 11/11/11:

terça-feira, 26 de abril de 2011

A Vida Afetiva dos Selvagens


Vidas de artistas costumam ser lembradas por seus aspectos mais radicais (uso e abuso de drogas, comportamento sexual transgressor, excessos de todo tipo, morte precoce, etc), ora, tais aspectos servem para conferir uma aura romântica e ajudam a criar o mito. A autobiografia "Só Garotos", de Patti Smith, poderia ser um exercício de confissões extravagantes ou chocantes (é o que geralmente esperamos de roqueiros), mas não é nada disso: trata-se de um livro tocante, que descreve com delicadeza e carinho o relacionamento entre Patti e o fotógrafo Robert Mapplethorpe.

Patti, antes de se tornar a grande poetisa do punk rock, lenda viva idolatrada por artistas variados como Bono Vox (u2), Morrissey (The Smiths) e Michael Stipe (R.E.M.), experimentou de tudo um pouco em arte, e seu livro reflete a efervescência contracultural dos jovens dos anos 60, quando ela e Robert "fugiram" juntos de sua cidade para se tornarem artistas em Nova York, meca da Pop Art de Andy Warhol.

A relação de amor, amizade e companheirismo entre Patti e Robert sempre foi intensa e sincera, desde que os dois se conheceram ate a morte dele (por aids, em 1989) e são tão profundos os laços afetivos que entrelaçam o cotidiano criativo e a vida pessoal dos dois que este aspecto, mais que a suposta rebeldia de ambos, é o que emociona profundamente o leitor.

domingo, 24 de abril de 2011

Lobotomia


Sábado, Mayron Régis e eu fomos à Batuque Brasil, um quintalzão que se faz passar por casa de espetáculos, na Cohama. A atração da noite era o cantor Lobão. Aquele mesmo que em meados dos anos 80 cantava coisas divertidas como "Corações Psicodélicos", baladas de amor "canalhas" como "Noite e dia" e brados inconformistas como os de "Vida Bandida".

Mas antes do velho lobo se apresentar, houve a abertura de uma banda local, Página 57. Uma tortura interminável, que fez os tímpanos zumbirem por mais de uma hora com o pior tipo de lixo metaleiro possível, algo que o Nirvana nos anos 90 parecia ter obliterado da face da Terra, mas que teima em voltar do além, mais morto que vivo, para entusiasmar os que têm ouvidos de lata. Um dos hits deles, "Chute no Culhão", serve como definição perfeita para a música dos caras.

Virando essa página desagradável, tivemos Lobão, num show enxuto e eletrizante.
Se alguém esperava um pop tchaptchura, como o besteirol típico dos anos 80 que desperta a nostalgia sentimental de senhores quarentões, foi ao show errado. Lobão e banda soaram pesados, afiados e potentes, fazendo um rock básico, direto (baixo-guitarras-bateria), sem firulas ou enfeites. Os muito sucessos do cantor fizeram a plateia pular, com seus acordes devidamente envenenados pelas guitarras guinchantes.

Depois do bis, em busca de um táxi, perguntei a Mayron: a ótima performance de Lobão compensou a chuvinha rala, a cerveja caríssima na latinha, os banheiros em condições sanitárias que me fizeram pensar nas descrições dantescas de Malebolge, uma malcheirosa região do inferno e, sobretudo, serviu para superar o trauma da inominável Página 57?

Bons shows de grandes e experientes artistas temos no Brasil. O que não temos - aqui em São Luís - é um terreiro decente e apropriado para receber estas entidades. Os santos de casa não fazem esse milagre.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Na Contramão


Assistindo "A Rede Social" (The Social Network, 2010), de David Fincher, encontro zilhões de motivos para explicar a minha falta de interesse por sites de relacionamento como Facebook, Orkut, MSN, etc etc etc.

Multidões se expondo na Internet sem nada interessante para dizer... francamente. É preferível ler um gibi.

O MEC não sabe escrever

Ah, a "lingua portuguêsa": inculta e feiosa, principalmente quando grafada em sítio e em livros do MEC ou quando falada pelos "cumpanhêros" no poder. Mas façamos como os linguistas e não demonizemos os erros ortográficos, que se hoje não servem mais para demonstrar que caindo de quatro as bestas não levantam mais, pelo menos comprovam o real compromisso deste governo com a educação, ou seja, nenhum.

Entrevistas


A Paris Review é uma revista tão prestigiosa que ser interrogado por ela costuma ser considerado equivalente a ganhar um grande prêmio. Este primeiro volume das Entrevistas da Paris Review, lançado pela Companhia das Letras, concentra 14 entrevistados pesos-pesados, alguns deles famigerados avessos a conceder entrevistas, como os escritores William Faulkner, Louis-Ferdinand Céline, Ernest Hemingway, Primo Lévi, Jorge Luis Borges e o cineasta Billy Wilder.

Sem se preocupar em fazer revelações bombásticas sobre a vida pessoal de seus entrevistados (ao contrário do que a mídia hoje faz com as celebridades vazias de nossa época), a Paris Review consegue extrair informações preciosas sobre os métodos criativos de cada artista. Alguns entrevistados destilam uma elegância genuína (Borges, Auden), e são brilhantes quando expõem suas opiniões nada triviais sobre os mais diversos temas (estéticos ou políticos). São muitos os prazeres e as surpresas que um livro destes concentra em suas páginas.

segunda-feira, 18 de abril de 2011


GESTOS


Em minha palavra tudo oscila

Como puro movimento musical


A mão que afaga uma lâmina

Ou opera carícias na porcelana da nudez,

vibra no ritmo corporal do poema.


Somos os livros de nossos gestos.


E cada ínfima cadência inaugural

Dos lábios, dos olhos, dos sexos,

Canta a árdua proeza de ser.


Sandro Fortes (03 de abril de 2011)

Sobre os rótulos


Quando comecei a pintar - há coisa de quinze anos - as pessoas me questionaram: "Mas você não é um escritor?", como se eu não soubesse o que estava fazendo, e ficasse pulando de arte em arte, como um sapo indeciso.

Houve uma época em que as pessoas acreditavam em explorar todos os seus potenciais. Até, digamos, os anos 60, quando os jovens se entregavam às mais variadas atividades de seu interesse.

Sempre, desde criança, gostei de desenhar. Na escola fazia histórias em quadrinhos. Na universidade desenhava os rostos dos meus colegas e ilustrava gratuitamente inúmeros jornais. Sempre tive fascínio e assombro por pintura, nada estranho, portanto, que um dia seguisse a vocação.

Mas sempre escrevi. E de vez em quando publicava. Amava literatura e quem me conhecia sabia bem disso. Esperavam que eu tornasse "apenas" um escritor. Ou nada. E me tornei um escritor que desenha e pinta.

As pessoas tendem a rotular as outras e depois não sabem o que fazer com o papelote que grudaram na testa alheia quando o outro - para o incômodo geral - decide mudar o destino traçado por si mesmo, exercer a sua liberdade, e desenvolver a sua própria personalidade, seja lá o que isso for.

P.S.: A ilustração acima não é minha, nem me usou como modelo. É um autorretrato de Victor Maristane, que também escreve, desenha e tem blog.

P.S.2: Anos atrás criei o o seguinte aforismo: "As pessoas não sabem como somos, mas têm sempre uma opinião formada a nosso respeito".

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Escrever

"Devemos escrever sempre como se escrevêssemos pela primeira e pela última vez. Dizer tanto como se fosse uma despedida, e tão bem como se estivéssemos estreando."

Karl Kraus

quarta-feira, 13 de abril de 2011

A Mulher Americana


Paulo Francis, em seu Diário da Corte, comentava que a literatura norte-americana não possuía mulheres críveis, com personalidades completas. Não havia uma Madame Bovary, uma Anna Karenina, nem uma Capitu, sequer, na obra dos melhores escritores dos EUA, centrados que estavam na figura masculina.

Já o cinema americano, que é considerado puro entretenimento pop, coisa francamente menor, apresenta perfis femininos realmente notáveis. Um exemplo é o magnífico Alice Não Mora Mais Aqui, de Martin Scorsese, em que Ellen Burstyn (que ganhou o Oscar em 1974 pelo papel) encarnava uma dona-de-casa interiorana, subitamente viúva, com um filho de 12 anos para criar.

Outro desses perfis que servem como radiografia da realidade de uma mulher americana é traçado, com muita competência e brilho, pelo diretor Todd Haynes, em Mildred Pierce, minissérie da HBO (em 5 capítulos) inspirada num livro de James M. Cain (autor do clássico O Destino Bate à Sua Porta).

A história da mãe com duas filhas (uma doce, a outra uma víbora), separada, que tem que batalhar por emprego (ela se torna garçonete e depois abre um restaurante) e que é atraiçoada pela própria filha mais velha e pelo amante cafajeste, já rendeu uma famosa adaptação noir de Michael Curtiz estrelada por Joan Crawford e já inspirou telenovelas como Vale Tudo, de Gilberto Braga, atualmente reprisada pelo canal Viva.

Mildred desta vez é encarnada por Kate Winslet, perfeita num papel rasgadamente melodramático. Outro destaque da minissérie é a magnífica reconstituição da época. Mais do que uma questão de adequação do decór, Haynes consegue recriar o clima de desamparo e fragilidade econômica que se seguiu imediatamente à quebra da bolsa de Nova York, da grande depressão (período quase análogo à atual crise da economia americana), feito que um filme razoável como Inimigos Públicos (de Michael Mann), que registra a mesma época, não conseguiu. Todo o período de revés dos anos 30 se reflete nos muitos golpes e rasteiras que Mildred, como mãe e como mulher liberada sexualmente, leva do destino.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Sidney Lumet (1924 - 2011)


Despojado e cru, muitas vezes teatral, e sem exibir um estilo visual característico, imponente e modernista, como os de Martin Scorsese, Francis Ford Coppola ou Stanley Kubrick, o diretor norte-americano Sidney Lumet rivalizava com estes mestres do cinema americano na contundência dos seus temas.

Ele abordou o racismo (12 Homens e Uma Sentença), o homossexualismo (Um Dia de Cão), a dependência em drogas e álcool (Longa Jornada Noite Adentro), a desestruturação familiar (Antes que o Diabo Saiba Que Você está Morto) e outros assuntos cabeludos com tato, energia e veracidade.

Suas obras-primas são várias, mas, para mim, o cruel Rede de Intrigas e o belíssimo O Peso de Um Passado são os que dizem mais ao coração.

domingo, 10 de abril de 2011

Cinebios brazucas

Sou um cinéfilo cri-cri. Do tipo radical: jamais entraria numa sala de cinema para ver um filme sobre Lula, Bruna Surfistinha ou Chico Xavier. Quem corre para ver esse tipo de cinema deve ter um caroço de pipoca não estourada como cérebro.

Liturgias do Poder






Nada como posar ao lado do Bono Vox. É mais simbólico de poder e prestígio, para um líder de nação, que beijar a mão do próprio Papa.

Carta Sem Sentido

A carta suicida desse rapaz que protagonizou um massacre no Realengo me parece, em sua incoerência, reveladora de uma mentalidade profundamente perturbada pelas questões sexuais. Ela dá vários comandos de como deve ser a manipulação do seu corpo, que não deve ser tocado por pessoas "impuras, fornicadoras ou adúlteras". A mãe adotiva dele era Testemunha de Jeová, uma religião profundamente obcecada por virgindade e pureza. Sem vida social, sexual ou afetiva, parece ter perdido os eixos. Disparou mais de 60 vezes, preferencialmente em meninas.

sábado, 9 de abril de 2011

Canastrices

Ivan Lessa, na BBC Brasil, destaca a constante canastrice de Liz Taylor em seus filmes. Mas Taylor, que poderia ter sido só um rostinho bonito em filmes banais (como Cameron Diaz em geral é), foi "canastrona" em alguns dos mais ousados e inesquecíveis grandes filmes de Hollywood, como Gata em Teto de Zinco Quente, Os Pecados de Todos Nós e Quem Tem Medo de Virginia Woolf?

Para mim, um dos maiores canatrões da história do cinema é James Mason. Incontáveis filmes que ele protagoniza poderiam ter sido melhores sem a sua escalação. Especialmente Lolita, de Stanley Kubrick, em que Mason está simplesmente repulsivo, sem um pingo da ironia venenosa de Nabokov.

O ator canastrão raramente é notado pela turma da pipoca ou admiradora de TV. Se o sujeito faz o tipo boa-pinta ou cheio de carisma, acaba endeusado por legiões inteiras de fãs, que não lhe percebem as limitações (alguém me explica o sucesso de Murilo Benício?).

Durante décadas considerei Robert de Niro e Al Pacino tentativas mancas de se tornarem "o novo" Marlon Brando. O problema não era a atuação de ambos, mas o modelo que elegeram: Brando era um ator genial, sem excessos, sem maneirismos, ou seja, um padrão elevado demais para alcançarem.

Estranha Compulsão

Colecionar DVDs (ou os inacreditáveis Blu-Rays): um dos grandes prazeres relativamente baratos de nossa época. No meu caso, já virou mais um vício que um hobbie. Sou absolutamente fanático por filmes e estou sempre ampliando a coleção. Aprecio especialmente os títulos da Lume e da Versátil (uma equivalente nacional à Criterion Collection).

P.S.: Pirataria? Nem pensar. Uma coleção de DVDs "genéricos" nem merece ser chamada de coleção. É um verdadeiro atestado de breguice.

Menina não entra?


O verdadeiro Clube do Bolinha em literatura é Moby Dick, de Melville: um navio baleeiro, o Pequod, em que mulher não entra, onde todo um universo é criado à parte, no qual elas sequer parecem existir. Mas há vários outros exemplos. Em A Biblioteca da Piscina, de Alan Hollinghurst, mulheres são apenas mencionadas de passagem, isso quando são (fala-se algumas vezes na irmã do narrador, mas a madame nunca dá as caras). Mas, Hollinghurst, gay assumido e militante, é um contemporâneo nosso. Nos tempos de Melville não havia o "mundinho" de saunas, boates, e clubes com dark-room.

O escritor e crítico John Updike na sua esplêndida coletânea de ensaios Bem Perto da Costa levantava a hipótese da homossexualidade de Melville, que em sua juventude havia sido marinheiro, mas Updike nem precisava chover no molhado. Ismael, o narrador de Moby Dick, após dividir a cama com o abórigene Queequeg numa hospedaria, informa que "nunca passara uma noite mais agradável em toda sua vida". Tá, meu bem?

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Dicção


Quais são os grandes poetas da língua? Lá em Portugal, nas alturas, temos Camões, Pessoa, Herberto Hélder, António Ramos Rosa, Eugénio de Andrade, Casimiro de Brito, Sophia de Mello Breyner Andersen, Jorge de Sena, etc.

Dentre os brasileiros, o som e a fúria pertencem a Drummond, Cabral, Faustino, Jorge de Lima, Gullar, Cecília, Bandeira, Leminski, Quintana, Murilo, Oswald, Nauro, Orides, Nejar, etc.

Mas a língua está sempre nascendo agora mesmo, a cada novo poema. Precisamos urgentemente ampliar este cânone. Ser os etc.