terça-feira, 31 de maio de 2011

Como eu vejo a TV

Nunca vejo tevê, nem assino os tais canais a cabo. Afinal vale a pergunta: TV para quê, se já tenho lixeira em casa? A quantidade de porcaria sub-sub-subcultural que as telinhas ou telões despejam na sala de estar das pessoas diariamente me revira o estômago. A TV não me parece verdadeiramente um meio de comunicação, porque serve mais para isolar as pessoas, impedindo que elas interajam com outras, vivendo num mundinho árido, individualista e consumista, como se todos estivessem num eterno comercial. A TV é a porta-voz berrante desta sociedade de consumo em que aspiramos apenas a mercadorias. É um monstro que serve para vender outros monstros. E ainda é uma deformadora de opiniões, uma fabriqueta de idiotas (ou máquina de fazer doidos, segundo o Stanislaw Ponte Preta) e uma arma imprescindível de manipulação política no período eleitoreiro. (O computador e a Internet também não são santinhos isentos de culpas nessa história).

domingo, 29 de maio de 2011

Nóis Pega o Peixe


O MEC tornou inútil e obsoleto o meu ganha-pão como professor de língua portuguesa (língua e portuguesa que o MEC grafa como lingua e portuguêsa, como foi apontado aqui em uma postagem anterior).

Se nada está errado no emprego da língua, tudo é certo, nós pega o peixe mesmo, e, portanto não há mais o que ensinar em sala de aula. Doravante vou passar os dias jogando xadrez ou biriba com meus alunos...

Curioso que não se pode afirmar o mesmo em outras disciplinas. Por mais politicamente correto que venha a ser a justificativa do erro em conhecimentos matemáticos por parte dos companheiros, 2 + 2 continuará resultando em quatro. A matemática como qualquer ciência exata só não funciona quando o governo faz orçamentos de obras, nesses casos 2 + 2 vai sempre equivaler a um superfaturamento de vários milhões.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Pingos nos is

Nada mais medíocre, e bocejante, e sem sentido, do que a arte de gabinete, produzida burocraticamente sob o mecenato de alguma secretaria de cultura.

O pior é que ou se fica nisso ou se cai no abismo sem fim dos entretenimentos populares.

Não existe opinião cultural em nossa cidade, em nosso estado. Nunca vi um jornalista do Maranhão opinar sobre uma única pintura, peça ou filme. As únicas imagens que nossos cadernos culturais discutem infinitamente são as das novelas de TV.

Cultura maranhense é puro clichê pra foto: bumba-meu-boi e olhe lá. E a repercussão da nossa produção acadêmica na vida nacional ou internacional é, simplesmente, nenhuma.

Já não existe mais cultura maranhense, afinal já não existem mais estruturas (políticas, sociais, educacionais, etc) maranhenses que a possibilitem. Hoje só existe o vale-tudo do mercado (em que a arte não vale nada). Ou o jogo de cena "cultural" dos nossos governantes, que adoram posar na foto oficial ao lado dos nossos artistas, abandonados de resto à própria sorte.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Hello Kit

Sobre a polêmica do kit anti-homofobia, a presidente(a) Dilma diz que não vai se meter nesse angu com caroço: "Não aceito propaganda de opções sexuais", diz, afagando o fervoroso preconceito das bancadas evangélicas e católicas que rezam ecumenicamente no Congresso Nacional (e que prometem em agradecimento canonizar Palocci como o santo padroeiro dos mensaleiros).

O mais chato de tudo isso é essa ideia falsa de que há muitas opções sexuais dando sopa por aí. Que tantas opções são essas afinal? Ou se gosta de homem, ou se gosta de mulher, ou então se passa manteiga nos dois lados da bolacha (dependendo do grau de ecumenismo da pessoa). E estamos conversados. Ah, quase eu ia esquecendo: existe essa gente perversa e criminosa que não quer saber de homem nem de mulher, gosta mesmo é de abusar de garotinhos, uma gente que curiosamente abunda (hmm) nas igrejas...

Cruzes!

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Ilha Deserta

Se eu pudesse levar um único livro para uma ilha deserta, eu levaria um tablet - com toda a minha biblioteca compactada dentro.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Pedaladas


O trânsito em São Luís é caótico. Há um excesso de veículos e pouquíssimas vias, nenhum guarda de trânsito por perto, faixas de pedestres apagadas, crateras carcomendo o asfalto, engarrafamentos, batidas e atropelamentos todos os dias. Um horror.

Daí que outra noite, conversando com uma amiga, numa festinha, ela me aconselhou a adquirir um carro. Garantiu-me que um carro é sinônimo de liberdade. E de status social (isso ela não disse, mas estava subentendido). Eu discordei, dizendo que carro era sinônimo de dor-de-cabeça, isso sim, levando em conta a falta de infra-estrutura viária de nossa cidade e a brutalidade de nossos motoristas, que não vejo respeitarem ou sequer conhecerem as regras do trânsito, pondo em risco a vida de muitas pessoas.

No ano passado tomei uma resolução definitiva. Detalhe: não sou um sujeito muito definitivo, mudo muito de opinião. Mas decidi que nunca, jamais, em hipótese alguma, comprarei um carro. Não, eu não sou o tipo de crente que associa carro à felicidade e à bem-aventurança. Sou um usuário de ônibus assumido (o que é chato, porque nossos ônibus são muito velhos, sujos e estão quase sempre lotados) e quando dá pego táxi de linha (evito os táxis piratas). Mas na verdade quero radicalizar. Estou seriamente tentado a comprar uma bicicleta.

Sim, bicicleta. Meu serviço fica razoavelmente perto do meu apê (são só 15 minutos indo a pé). E sempre achei bicicleta o máximo. Faz um bem danado para o corpo e não polui. Mas infelizmente em SL não temos ciclovias. E nem avenidas decentes. Resultado: no meio do nosso trânsito louco, muitos ciclistas acabam atropelados. Outro horror. Minha vontade era de encabeçar um movimento recomendando as pessoas a venderem seus automóveis e substituirem-nos por bicicletas. E exigir da prefeitura a criação de ciclovias. Faria um bem danado para a nossa cidade, tão poluída, tão engarrafada, tão estressante...

Uma ideia dessas será que daria pé? Ou, pelo menos, algumas pedaladas?

terça-feira, 17 de maio de 2011

Dois filmes


Dois dos filmes mais belos, sensuais e imperdíveis a que já assisti: Elvira Madigan (1967), de Bo Widerberg, e Pai e Filho (2003), de Aleksandr Sokurov.

O primeiro é uma obra verdadeiramente romântica, que mostra a trágica paixão entre um oficial da cavalaria sueca e uma acrobata de circo. Ele abandonou o posto, a mulher e dois filhos pequenos para fugir com a lindíssima Elvira Madigan. Ambos esbanjam juventude e beleza, mas são profunda e narcisicamente egoístas. A história é baseada num caso verídico e o final suicida é anunciado logo no prólogo do filme (Na primeira cena pensamos que os dois estão mortos na relva). O local em que Elvira e o seu tenente estão enterrados até hoje é visitado por casais e amantes do mundo inteiro.

O segundo filme é um grande exercício de arte e estilo de Sokurov, ao mostrar em imagens carregadas de tensão sensual (e tesão quase homossexual) o amor entre um pai e seu filho adolescente. Há um hiato gigantesco, de palavras não ditas aqui. De subentendidos. De olhares fatais (todos os personagens deste belíssimo filme são fatais). Há um clima meio que de sonho e de desejo constante. Há belos corpos e rostos. Há o temor da morte e da ausência do ser amado. O filme é um daqueles pratos refinados com os quais os psicanalistas se deliciam.

Enfim: São filmes sublimes, que dão vontade de recomendar para todo mundo que se conhece. Aluguem o DVD, baixem, comprem, emprestem, gravem, roubem. Não percam por nada.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Linhas (Thor)tas

Fãs de seja lá quem for são maníacos obsessivos sem qualquer senso de objetividade. O que é ser um fã? É ser um fanático. Embora admire o trabalho e a personalidade de muitos artistas, nunca me considerei um 'fã', a ponto de colecionar toda a tralha cultural ligada ao artista X ou Y. Felizmente, ninguém é meu führer.

A indústria do Entretenimento, claro, fatura alto com a adoração dos fãs fiéis, que voam para os últimos lançamentos de seus ídolos como uma nuvem de insetos famintos mergulhando num milharal. Sempre achei que "O Dia do Gafanhoto", de Nathanael West, era mais do que uma paródia cruel do fanatismo dos cinéfilos, mas uma saga apocalíptica ao mostrar o vazio espiritual destrutivo de nossa era da cultura de massas.

Fãs de quadrinhos encaram as sagas de seus super-heróis favoritos como se fossem as Escrituras Sagradas. O crítico Roger Ebert ousou escrever uma resenha espirituosa sobre a bobajada de 'Thor' e foi bombardeado por milhares de postagens de fãs indignados em seu blog. Um nerd mais exaltado pediu até a demissão do crítico do Chicago Sun-Times. Ebert, um ironista na melhor tradição de Samuel Johnson, muito se diverte com as broncas dos adoradores desse deus nórdico, louro e gostosão.

Estivéssemos na Contra-Reforma e toda essa gente pagã seria queimada pelas fogueiras da Santa Inquisição... Vivemos em tempos muito bonzinhos.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Avesso e Perverso


"Às Avessas" (1884), do parisiense Joris Karl Huymans, é uma flor exótica, diferente de tantas em que já pus os olhos. Um genial compêndio de excentricidades do Decadentismo, uma obra singularíssima que Oscar Wilde admirava e recomendava. Em seu O Retrato de Dorian Gray, Wilde define "Às Avessas" como um "livrinho venenoso".

Conta a história de um nobre riquíssimo, que não suportando viver a mesma vidinha medíocre de seus contemporâneos, isola-se de tudo e todos e se entrega a seus mais caprichosos e refinados gostos.

Basicamente é a história de um só personagem. Mas que personagem é Des Esseintes! Um super-esteta afetado e doentio, existencialmente insatisfeito, afastado do mesquinho mundo burguês, que lhe causa repulsas. O estilo de Huysmans é de uma riqueza verbal luxuosa e luxuriante e mesmo que o livro não tenha sido publicado antes por aqui, serviu de influência a inúmeros dos nossos escritores, embora nenhum de seus discípulos - europeus ou brasileiros - o iguale. Um tédio mortal ataca os nervos sensíveis de des Esseintes. Ele o combate cercando-se de livros, tapetes, jóias, flores, móveis, licores, perfumes, pinturas, numa tentativa atrás da outra de explorar sensações raras, incomuns, singulares.

Nestes tempos de vulgaridade berrante e de mau gosto generalizado na literatura e na vida, "Às Avessas", venenoso e inigualável como é, funciona como o mais perfeito antídoto.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Miséria Pouca é Bobagem


Os números do IBGE são eloquentes: 25% da população do Maranhão vive na mais abjeta miséria. É uma condição degradante demais até mesmo se comparada ao resto do Nordeste brasileiro. Os bigodes responsáveis por isso? Fazem que nada é com eles e que vivemos no melhor dos mundos (basta conferir as propagandas oficiais). Lula, que prometeu "tirar o povo da m..." não tirou. O Padre Vieira é que tinha razão. O Maranhão é a terra dos M. M de Miséria. M de m...!

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Curta um Curta


"Film" (1965), o estranho curta-metragem protagonizado pelo comediante Buster Keaton e dirigido por ninguém menos que Samuel Beckett acaba de ganhar lançamento em DVD por estas bandas tropicais, e custa mais ou menos 40 dinheiros.

Mas quem quiser gastar absolutamente nada nestes tempos de inflação a galope, pode assistir à curiosa dobradinha cinematográfica Beckett-Keaton aqui mesmo. "Film" é um filme curtinho (20 minutos de corte) e foi dividido em duas partes por alguma alma benevolente, gentil e caridosa do YouTube.




Ninfa Infanta, Mas Nada Santa


Lendo atualmente o ótimo (e póstumo) "A Ninfa Inconstante", de Guillermo Cabrera Infante, um dos meus super-heróis literários, lançado agora pela Companhia das Letras.

Um intelectual (crítico de cinema) que se apaixona por uma jovem atraente e que de ingênua não tem nada: parece um tema mais do que batido depois de Lolita, mas o tema do livro recebe um tratamento deliciosamente mordaz e sem par, graças à linguagem de Cabrera, que utiliza com muito humor (e amor) os seus famosos jogos verbais trocadilhescos.

Um livro para ler e reler e tresler.