domingo, 24 de abril de 2011

Lobotomia


Sábado, Mayron Régis e eu fomos à Batuque Brasil, um quintalzão que se faz passar por casa de espetáculos, na Cohama. A atração da noite era o cantor Lobão. Aquele mesmo que em meados dos anos 80 cantava coisas divertidas como "Corações Psicodélicos", baladas de amor "canalhas" como "Noite e dia" e brados inconformistas como os de "Vida Bandida".

Mas antes do velho lobo se apresentar, houve a abertura de uma banda local, Página 57. Uma tortura interminável, que fez os tímpanos zumbirem por mais de uma hora com o pior tipo de lixo metaleiro possível, algo que o Nirvana nos anos 90 parecia ter obliterado da face da Terra, mas que teima em voltar do além, mais morto que vivo, para entusiasmar os que têm ouvidos de lata. Um dos hits deles, "Chute no Culhão", serve como definição perfeita para a música dos caras.

Virando essa página desagradável, tivemos Lobão, num show enxuto e eletrizante.
Se alguém esperava um pop tchaptchura, como o besteirol típico dos anos 80 que desperta a nostalgia sentimental de senhores quarentões, foi ao show errado. Lobão e banda soaram pesados, afiados e potentes, fazendo um rock básico, direto (baixo-guitarras-bateria), sem firulas ou enfeites. Os muito sucessos do cantor fizeram a plateia pular, com seus acordes devidamente envenenados pelas guitarras guinchantes.

Depois do bis, em busca de um táxi, perguntei a Mayron: a ótima performance de Lobão compensou a chuvinha rala, a cerveja caríssima na latinha, os banheiros em condições sanitárias que me fizeram pensar nas descrições dantescas de Malebolge, uma malcheirosa região do inferno e, sobretudo, serviu para superar o trauma da inominável Página 57?

Bons shows de grandes e experientes artistas temos no Brasil. O que não temos - aqui em São Luís - é um terreiro decente e apropriado para receber estas entidades. Os santos de casa não fazem esse milagre.

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