quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Água de Pedra


Em meu sono sonoro, eu sou uma pedra

alta, concisa.

Minhas palavras esvoaçam

como aves infinitas.

Meu mito é o silêncio,

O mar verde

De onde o pensamento retira

peixes definitivos.

Em minha música, eu sou

um girassol

fincado no meio-dia.

Minha fulminante natureza de palavra

acende os incêndios da voz.

Eu sou a convergência do fogo

em pensamentos altos,

maleáveis.

Em minha alucinação, eu sou um híbrido de deus e cavalo

Ambos feridos de morte. Minhas palavras celestiais cavalgam

horizontes rubros.

Pertenço à natureza imemorial

de pensamentos definitivos como falos,

espadas,

pedras tumulares.

Em minha imobilidade, eu sou uma árvore

de seiva triste e raízes concisas.

As minhas palavras são brotos

de natureza solar, na plenitude

de uma tarde de verão,

entre cítaras e cigarras.

Nos dedos definitivos

Nasce e morre a flor

do poema.

Em meu fulcro de flor e medo, sedento,

Eu sou um homem.

Estes signos inquebráveis são os delíquios

Rubros

Da minha safra, cifra de treva com pressa,

pulsar de estrelas definidas:

As palavras em chamas que ostento

Ainda doem

Em minhas unhas.

Em meu sopro final, eu sou a água

Extraída da pedra, os póstumos

desejos do morto de sede.

As palavras

Que escavo de sonho

em sonho e que me despertam.

Minha natureza é este rio

Rubro e definitivo.

Um fio

de timbres entre os ruídos

do tempo.


Sandro Fortes, 05/10/2011

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