sexta-feira, 28 de outubro de 2011

A Cozinha Nada Maravilhosa de Jeanne


Hoje finalmente criei coragem e assisti às três horas e 12 minutos de um dos filmes mais desafiantes dos anos setenta, "Jeanne Dielman" (Jeanne Dielman 23, quai du Commerce, 1080 Bruxelles), da diretora feminista Chantal Akerman.

O cotidiano de Jeanne (Delphine Seyrig), uma dona-de-casa que fica se ocupando com tarefas que ninguém merece o dia todo, é enfadonho: ela prepara o jantar para um filho adolescente, faz compras, vigia o filho dos vizinhos (talvez o bebê mais abominável já mostrado pelo cinema) e ganha alguns trocados como prostituta ocasional. Tudo isso quase sem diálogos.

Perto da secura e do vazio existencial dessa senhora até mesmo a minha vidinha de professor parece uma montanha-russa de emoções extremas.

O filme é absolutamente frio e rigoroso ao enfocar a vida sufocante e tediosa de uma mulher que cumpre alienada e silenciosamente as tarefas domésticas. Não há qualquer possibilidade de sonho, amor ou prazer que transcenda uma existência tão medíocre e tão previsível, o que talvez desencadeie a inesperada e impressionante reação de Jeanne, perto da sequência final.

Não é filme para qualquer um. Só os amantes mais pacientes da sétima arte não vão emitir uivos dolorosos quando Jeanne mergulhar nas tarefas repetitivas do seu terceiro dia sempre-o-mesmo. Até quem se maravilha com o andar arrastado dos filmes de Tarkóvski corre o risco de ficar desesperado assistindo a este filme singular, lançado aqui (em bela cópia remasterizada) pela Lume.

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