segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Cidadã Kate


Dia desses encontrei um amigo que não via faz um tempão. Foi na entrada dum cinema. Começamos a falar de filmes e dei grande atenção às suas dicas (ele sempre dá ótimas dicas de filmes e discos). Confessou-me fazer download de tudo quanto é filme pela Internet. (Eu não faço, e hoje devo ser muito antiquado, pois ainda compro DVDs e Blu-Rays!)

A conversa num piscar de olhos enveredou para o universo das séries americanas. Aí perguntei se ele acompanhou a série Mildred Pierce, dirigida por Todd Haynes, com a atriz Kate Winslet. E ele, para minha surpresa, disse o seguinte:

"Odeio a Kate Winslet. Acho ela feia, gorda e chata. Por mim, ela devia ter morrido e afundado junto com o Titanic!"

Ri muito, na hora. Mas achei um comentário muito radical. E um bocado injusto. Em primeiro lugar, não acho Kate Winslet feia. Talvez não seja linda. Mas toda atriz tem de parecer uma top model? Beth Davis certamente não encaixava muito no padrão hollywoodiano de beleza. Mas, e daí? Ajeitadinha, com a maquiagem, as roupas e o corte adequados Kate sempre fica muito agradável aos olhos. Pensem na presidente Dilma, que não tem personal stylist que dê jeito. Kate pode ter uma beleza meio rotineira para muita gente, mas eu não acho. Sou acostumado a ver gente tão monstruosa no meu cotidiano que um rosto como o de Kate é um colírio para olhos aflitos.

Gorda? Não mesmo. E, ainda que fosse, estar com alguns quilinhos a mais (o que não é o caso) é algo perfeitamente normal. Já a anorexia nervosa - como no caso dessas modelos famélicas de hoje - é uma doença, e muitas vezes, fatal. Por sinal, dizer que uma mulher "é ou está gorda" é considerada uma das piores ofensas possíveis hoje. Por quê?

Tanta obsessão pela magreza faz com que as atrizes perambulem como esqueletinhos do Halloween nos filmes de Hollywood (Ontem vi o bom A Troca, com Angelina Jolie e fiquei assustado, a atriz estava só osso e beiço no filme). Muitos gordos devem se sentir vítimas de bullying quando esses chatonildos de plantão insistem em ensinar na TV "como levar uma vida melhor e mais saudável". Bom, pra começar, podiam desligar a televisão.

Aliás, quem estava meio rechonchudinho era o meu amigo que odeia a Kate Winslet. Mas TUDO BEM.

Kate, chata? Eu devia ter perguntado: na vida real ou nos filmes? Em qualquer lugar? Não sei se ele tem acesso à vida pessoal da atriz para saber quão chata ela é no dia-a-dia. Na ficção, tudo bem, há personagens que realmente são muito chatos. Filmes inteiros que são chatos. Não acho que seja o caso da atriz, que sempre soube fazer boas escolhas, começando pelo magnífico Almas Gêmeas. Tudo bem, Titanic, com aquela música xarope da Celine Dion (essa sim uma chata de galochas) não é um programa agradável para muita gente (danem-se, eu gosto!). Mas Kate está soberba enquanto o resto do elenco vai submergindo, e igualmente admirável em filmes como Hamlet, Pecados Íntimos, Foi Apenas Um Sonho, a minissérie Mildred Pierce, etc. Falta vê-la em Contágio (que amanhã pretendo assistir).

Esse meu amigo às vezes costuma voltar atrás em suas opiniões. Lembro de uma vez em que deixei de comprar um cd que achei numa loja, pois ele criticou sem dó o mesmo. Anos depois falei sobre esse mesmo disco, e ele me confessou que o adorava. Que era um dos melhores da banda (Jesus and Mary Chain, o cd se chamava Automatic). Portanto...

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