quarta-feira, 11 de maio de 2011

Avesso e Perverso


"Às Avessas" (1884), do parisiense Joris Karl Huymans, é uma flor exótica, diferente de tantas em que já pus os olhos. Um genial compêndio de excentricidades do Decadentismo, uma obra singularíssima que Oscar Wilde admirava e recomendava. Em seu O Retrato de Dorian Gray, Wilde define "Às Avessas" como um "livrinho venenoso".

Conta a história de um nobre riquíssimo, que não suportando viver a mesma vidinha medíocre de seus contemporâneos, isola-se de tudo e todos e se entrega a seus mais caprichosos e refinados gostos.

Basicamente é a história de um só personagem. Mas que personagem é Des Esseintes! Um super-esteta afetado e doentio, existencialmente insatisfeito, afastado do mesquinho mundo burguês, que lhe causa repulsas. O estilo de Huysmans é de uma riqueza verbal luxuosa e luxuriante e mesmo que o livro não tenha sido publicado antes por aqui, serviu de influência a inúmeros dos nossos escritores, embora nenhum de seus discípulos - europeus ou brasileiros - o iguale. Um tédio mortal ataca os nervos sensíveis de des Esseintes. Ele o combate cercando-se de livros, tapetes, jóias, flores, móveis, licores, perfumes, pinturas, numa tentativa atrás da outra de explorar sensações raras, incomuns, singulares.

Nestes tempos de vulgaridade berrante e de mau gosto generalizado na literatura e na vida, "Às Avessas", venenoso e inigualável como é, funciona como o mais perfeito antídoto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário