sexta-feira, 11 de novembro de 2011

A Morte da Leitura


Para concluir o ano letivo, passei uma tarefa bem prosaica para os meus alunos: ler alguns contos de renomados escritores brasileiros (Machado de Assis, Lygia Fagundes Telles, Moacyr Scliar, etc), contos a partir dos quais eles deveriam fazer uma apresentação.

Pois bem. Os meus alunos adolescentes (do Turno Vespertino) desencumbiram de forma hilária a tarefa, apresentando um dos contos sugeridos (Canibal, do Moacyr Scliar) em formato de peça teatral. Dois alunos surdos-mudos chegaram até a se fantasiar de mulher para fazer seus papéis. Percebi que muitos alunos da turma estavam excitadíssimos com o trabalho. Mas quando eu pedia para eles explicarem o que entenderam do texto lido, eles embatucavam.

Já os alunos da noite, que são todos adultos, diga-se... nem sentiram vontade de ler os contos. Com a honrosa exceção de um aluno, os demais não se dignaram a ler e ainda reclamavam, dizendo que ler cinco páginas de texto era demais: uma tarefa impossível.

Avisei-lhes que o meu livro favorito - Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust - tinha 3.300 páginas. Isso não me impediu de ler o livro inteiro, três vezes. Eles disseram: "Ah, mas o senhor é inteligente" e "Mas o senhor é professor", como se somente eu fosse "inteligente", ou como se só professores fossem capazes de ler.

Não se trata aqui da morte da leitura, simplesmente, tão anunciada aos quatro ventos nestes tempos de Internet e de predomínio do audiovisual. O que presencio todos os dias naquela sala de alunos adultos desmotivados é algo ainda mais grave: a absoluta degradação da nossa educação... e da nossa língua.

Sim, a língua que nos confere unidade e identidade cultural tem se tornado ela mesma fator de exclusão. Fico abismado com a falta de leitura das pessoas e suas justificativas absurdas para não lerem. "Ler demais deixa as pessoas doidas", este é o consenso e o veredito entre meus alunos. E tantos pensam assim que deve ser um lugar-comum entre milhões de brasileiros analfabetos ou semiletrados. A decadência de uma língua - escrita ou oral - marca a decadência de um povo. Portanto, a estagnação da linguagem oral e escrita entre estudantes maranhenses é mais um sintoma da estagnação política, econômica e social de nosso estado.

2 comentários:

  1. Sandro, esse fato também acontece comigo em sala de aula, trabalho com jovens e adultos na parte da noite. Quando passo um texto com uma ou duas laudas eles acham um verdadeiro suplício a leitura. É muito triste...

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