sábado, 10 de dezembro de 2011

A Burrice Unânime que Passa por Cultura

"Toda unaminidade é burra", já dizia o grande Nélson Rodrigues, ele mesmo alçado à condição de unanimidade nacional, forte representante, portanto, da burrice generalizada e autocomplacente que é nossa cultura.

Penso nisso tudo depois de uma postagem no blog do Tony Goes sobre uma das poucas outras unanimidades brasileiras, Fernanda Montenegro. Ela é, evidentemente, endeusada por pública e crítica como a primeira dama dos nossos palcos, e merece todas as glórias e salvas de palmas, penso, mas sempre há quem seja do contra. Lembro que, na minha já remota adolescência, conheci uma jovem estudante de cinema que considerava a atriz uma tremenda canastrona "sempre fazendo o papel de Fernanda Montenegro".

Lembro que suas opiniões cavaram uma espécie de abismo estético entre nós dois. Se Fernanda Montenegro não sabia representar, então quem entre nós, pobres tapuias, sabia? Até hoje eu busco que a performance de um ator ou atriz me responda isso. Acima de nós, só as estrelas, cantava Guilherme Arantes.

Sei que de canastronice em canastronice seguimos em frente, fazendo teatro, batendo bola, escrevendo blogs. Vivemos numa cultura atroz, de negação da grandeza, de grandes fracassos individuais e coletivos. Talvez a marca de nossa cultura seja a unanimidade do nosso fracasso. Não é uma mera questão de baixa auto-estima de uma nação, como tantos sociólogos martelam por aí, afirmando que nosso pessimismo seria a resultante da soma de nossas três raças tristes. Peço licença pra discordar. O economista John Kenneth Galbraith dizia que o pessimismo caracterizava a mentalidade superior, levando em conta o otimismo imbecilizante das maiorias.

Pessimista, a meu ver, é alguém que vive em perpétua perplexidade existencial. Nosso povo, carente de cidadania e de tudo o mais, é otimista como o dr. Pangloss, só enxergando até a ponta do próprio nariz e achando que vive no melhor dos mundos. Machado de Assis foi quem entendeu melhor os nossos sentimentos:

Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: — Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.

Nenhum comentário:

Postar um comentário