quarta-feira, 1 de junho de 2011

A microscópica grandeza de Walser


Robert Walser, um dos grandes gênios literários do século XX, desprezava o rótulo de "grandeza". Sua literatura tratava daquilo que a outros olhos, menos talentosos, poderia parecer miúdo demais para merecer registro. E é justamente nesse registro acurado de miudezas que a singularidade e a genialidade de Walser afloram. Seus livros - com frase curtas e altamente citáveis - contêm relatos que parecem tirados tanto de sua experiência pessoal quanto de um conto de fadas. Não espanta que sua obra seja citada como fonte de influência ou gere a admiração ardorosa de tantos escritores admiráveis: Franz Kafka, Thomas Mann, Hermann Hesse, Elias Canetti, J. M. Coetzee, Enrique Vila-Matas, Susan Sontag, Robert Musil, Walter Benjamin, W. G. Sebald, entre outros.

A despeito do prestígio atual, que hoje o leva a ser reverenciado, o destino foi cruel com Walser. O escritor penou por quarenta anos purgatoriais internado em uma instituição psiquiátrica, onde viveu em profundo silêncio literário (mesmo os microgramas, textos manuscritos em letra minúscula foram escritos muito anos antes), e por lá prosseguiu isolado do mundo europeu e do universo literário, até o seu suicídio.

Os seus romances, escritos na juventude, são obras-primas modelares, trabalhos de mestre, especialmente este Jakob Von Gunten, que a Companhia das Letras lança em momento mais que oportuno (também lançando um livro de ensaios variados de Coetzee em que se analisa vida e obra de Walser).

O livro é o diário do jovem Jakob, um personagem travesso, picaresco como um pequeno demônio, que voluntariamente entra para um internato, no qual os rapazes não são instruídos, mas adestrados para ocuparem cargos servis. O paradoxo de alguém tão singular, com um olhar tão aguçado para o quase indizível, que ambiciona tão só "se tornar um joão-ninguém", prende o interesse do leitor do começo ao fim.

Os choques dele com os demais personagens, especialmente com o jovem e esforçado Kraus (seu oposto), bem como o encanto que exerce sobre a professora e o diretor do Instituto Benjamenta, dão estofo a uma das narrativas mais brilhantes, originais e irreverentes de todos os tempos.

Aos que nunca leram Walser, eis um belo começo.

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