quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Alguma Poesia


OS PASSOS DISTANTES


Meu pai dorme. Seu semblante augusto
reflete um coração cheio de paz;
está agora tão doce...
e se algo existe nele de amargo, serei eu.

Há solidão na casa. Ainda se reza;
e hoje não houve notícia dos filhos.
Meu pai acorda. Fica sondando
a fuga para o Egito, o estagnante adeus.
Está agora tão perto;
e se nele existe algo de distante, serei eu.

E minha mãe passeia pelas hortas,
saboreando um sabor já sem sabor.
Está agora tão suave,
tão asa, tão longínqua, tão amor.

Há solidão na casa silenciosa,
sem notícias, sem verdes, sem infância.
E se há algo de quebrado nesta tarde,
e que desce e que range,
são dois velhos caminhos curvos, brancos.
Por eles vai a pé o meu coração.


César Vallejo, poeta peruano, em tradução de Thiago de Mello.

2 comentários:

  1. Los Heraldos Negros... Espero que também tenhas relido "Voy a hablar de la esperanza" do livro Poemas em Prosa...

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  2. Os Poemas Completos do Vallejo são o meu livro de cabeceira atual. Fascinam-me os Poemas em Prosa, e sobretudo, Trilce.

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