terça-feira, 23 de novembro de 2010

Uma Paixão Literária


A sensação de ler A Paixão (The Passion), ótimo romance pós-moderno da inglesa Jeanette Winterson (fotos), que se passa na Europa durante o período napoleônico, é de perplexidade. O livro é absolutamente imprevisível e conta a estranha relação entre um soldado francês admirador de Bonaparte e uma bela jovem filha de gondoleiro veneziano, com pés disformes (de pato). É um livro de época fantasioso e divertidíssimo, que me lembrou muito o Memorial do Convento, de Saramago, e o Mundo Alucinante, de Reinaldo Arenas. É cheio de histórias absurdinhas às quais o narrador pede que acreditemos ou não. O narrador, por sinal, são dois. O romance muda constantemente de voz, de perspectiva e até de sexo, alguns personagens adoram travestir-se (os protagonistas de Jeanette são sempre andróginos).

Jeanette é uma escritora de destaque, que desafia as convenções literárias, linguísticas e de gênero. A história pessoal dela parece mais uma das muitas narrativas improváveis do seu romance: Jeanette foi adotada por um casal de missionários pentecostais, que a ensinaram a ler através do Deuteronômio. Ainda menina, já se tornara evangelista, escrevendo seus primeiros sermões aos seis anos. Aos dezesseis, fugiu de casa para viver um caso de amor lésbico.

A Paixão foi um livro publicado originalmente em 1987. Serve como uma excelente porta de entrada no universo provocativo da autora. Saiu aqui no Brasil pela Record, em 2008, e a editora promete lançar mais romances dela, como A Guarda do Farol. Que bom!

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