segunda-feira, 19 de abril de 2010


Fico perplexo quando Elias Cannetti comenta, em um de seus ensaios, quão admirável lhe parecia a vida de Tolstói - sobretudo os anos finais, em que o grande escritor russo se transformou numa espécie de Rei Lear à própria revelia - e quão pouco apreço sentia pela obra tolstoiana.

Tolstói é tão grandioso que comove os chamados grandes leitores. Ao falar em seu nome lembro-me de um dos maiores leitores que já conheci, o meu saudoso amigo João de Paula Aragão, com quem, de literatura tudo que pude debati, e que uma vez, convidado por mim a falar sobre "o maior romancista que já havia lido" , citou-me o Tolstói de "Guerra e paz", enquanto eu pensava no Proust de "Em Busca do Tempo Perdido".

Adquiri recentemente, pela Cosac & Naify, a bela edição do Khadji-Murat, novela final de Tolstói, considerada por Harold Bloom, sua obra máxima. É um estilo cinematográfico. Tostói carregava o manuscrito consigo por onde ia, sempre fazendo modificações, suprimindo trechos belíssimos, a despeito da opinião de seus admiradores. Para o último Tostói, escrever era cada vez mais a arte de eliminar palavras. O texto que nos chega atinge os limites da transparência.

Nenhum comentário:

Postar um comentário