quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Tirando o atraso


Finalmente me dei ao trabalho de assistir ao famigerado Tropa de Elite (2007), de José Padilha. Foi bom poder analisar o filme só agora, quando já baixou a poeira. O hype criado em torno chegou nas estratosferas, dado o sucesso popular do filme. Vamos relembrar a recepção crítica da época. Muita gente boa criticou. Muitos aplaudiram de pé. Houve quem dissesse que era um filme fascista. Houve quem negasse de pé junto. O filme ganhou fama e prêmios, foi extremamente pirateado (e já que o dvd pirata financia o tráfico em nosso país, a pirataria de um filme antitráfico é uma grande contradição tipicamente brasileira) e já ganhou continuação.

O filme é narrado em off pelo Capitão Nascimento (Wagner Moura). Antes não fosse. A narração em off toma partido e justifica ações duvidosíssimas. Se a intenção era fazer um retrato realista da vida de um policial do BOPE, deviam focalizar as coisas mais objetivamente, deixar as imagens falarem por si mesmas. O filme é subjetivo e parcial. É um filme fascista. Repleto de ideias fascistas. Defende práticas policiais como a tortura e o assassinato. Decide fazer uma faxina moral e social através das armas. Tem horror ao discurso dos intelectuais e dos universitários. É antipacifista. É belicista, militarista. Trata-se de uma obra incômoda, uma verdadeira batata quente, como "O Triunfo da Vontade", de Leni Riefenstahl (que está muito longe de ser um dos meus filmes favoritos).

Conheci um sujeito na universidade que se dizia fascista. Figurinha que defendia a "purificação", a limpeza da sociedade. Num país paradoxal como o Brasil, e miscigenado, difícil é definir o que seria essa tal pureza. Tropa de Elite mostra uma polícia que existe para proteger... a própria polícia. De quem? Do sistema corrupto. Essa é toda a pureza que prega o filme, com um tom retórico, de quem discursa e julga, sabendo quais são os males do Brasil e como resolvê-los. Na base do cacete e do pau puro. Com estratégia de guerra. Alguém se lembra de outros filmes fascistas como Rambo e Perseguidor Implacável? Não eram sobre outra coisa.

Há fãs que vertem tratados pseudos para dizer que o filme não é fascista porque não se encaixa esteticamente nos moldes originais da coisa. Quá. Quá. Quá. Querem que Tropa de Elite seja Futurista? Mostre-me qualquer grupo que mereça ser eliminado, massacrado por uma "elite" e já estamos no território de Mussolini, Hitler, George W. Bush...

O fascismo já vem embutido no próprio título do filme.

2 comentários:

  1. Oi, Sandro! Tô sempre por aqui lendo o que você pensa sobre as coisas. Leio seus textos duas vezes, aliás, três. Uma pra ler mesmo, saber o que vc tá dizendo, outra pra me deliciar com o jeito lúcido, simples e profundo como vc escreve e outra em voz alta, imaginando que foi eu que escrevi. Um hábito meio infantil, que tenho desde muito tempo com textos que acho legais. Aí tu pode se perguntar o que me disse uma vez: "mas por que ela lê sempre e nunca comenta nada?". Às vezes, por preguiça, por não saber o que dizer, pq deixo aberto achando que vou comentar daqui a pouco... Mas n importa, gosto da simples sensação que a tua leitura me dá, sempre fico com vontade de ler o que vc indica, de ler outras coisas, enfim, de ler mais. Na nossa amizade, eu me distanciei, mas vc tá sempre perto de mim... Um bjo grande e um abraço afetuoso

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  2. Oi, Viviane. Já fico muito feliz em saber que meus textos são lidos! Imagina então se me dizem que gostam de reler um texto meu... Ah! E você ainda se lembra daquilo que eu falei! Bom, eu também costumo ler alguns blogs por aí, e muitas vezes gosto do que li, mas vou embora sem comentar nada... Acho que a maioria das pessoas faz isso. Mas a grande vantagem do blog é justamente essa possibilidade de interação... poder ler o que os outros também pensam a respeito dos assuntos. Alguns comentários de leitores podem ser até mais legais que a própria postagem do blogueiro! Beijo e Abração!

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